Guerra no RioO início do fim » Por: Luiz Amado MachadoFoto: Aluízio Freire / G1Cabo Izzo faleceu na última segunda (19)Houve um tempo, não sei se glamouroso, romântico, ou apenas real, em que eu e mais alguns companheiros fazíamos parte de uma polícia, na qual tínhamos orgulho de atuar, tínhamos prazer em participar das operações desde o seu planejamento, até a sua execução.Houve um tempo em que os policiais que atuavam no combate direto ao crime organizado, e aqui não vai nenhuma crítica aos que atuavam em outras áreas, mas falo por mim e por aqueles que durante anos foram lotados na DRE, mais especificamente na DRE/RJ, e que hoje assistem aos eventos recentes que vem acontecendo em nossa cidade e que estarrecidos, assistem aquela delegacia que sempre primou por ser a primeira a se apresentar para atuar em apoio, fosse em operações nossas, fosse em operações de outras instituições, em situações de confronto ou não, e que agora assiste passivamente a guerra que se instalou em nossa cidade, sem se mover, estática, tetraplégica.Houve um tempo em que os policiais da DRE participavam das operações nas favelas (por que os nomes “comunidade” ou “área de risco” surgiram depois), mais com o coração do que com especialização, mais com a vontade de vencer o bom combate do que com grandes recursos propriamente ditos, quais sejam: armamento, viaturas etc..Houve um tempo em que a nossa polícia se ocupava diuturnamente no combate ao verdadeiro crime organizado, sem se preocupar com “PIROTECNIAS” ou outro nome que queiram dar, mas que efetivamente combatia a criminalidade, que cuidava de tirar das ruas aqueles que só existiam para fazer o mal, para viciar nossos filhos, para matar nossas famílias, para acabar com nossas vidas.Mas hoje não, hoje atuamos (se é que podemos dizer isso) em uma polícia repleta de siglas, COT, GPI, CGPRE, DCOR, DELEPAT, DELEARM etc. e que se tornou, ou pelo menos tenta se tornar, um modelo de “gestão no serviço público”, com equipamentos de p onto digitais, com controle de viaturas através de sua “eficiente” rede de computadores, onde as palavras que mais se ouvem por parte dos dirigentes são ‘CONTROLE, GESTÃO, OTIMIZAÇÃO DE RECURSOS etc., mas que infelizmente deixou de ser polícia.Deixou de ser aquela polícia em que os “GUERREIROS” que nela atuavam o faziam com orgulho e até por que não dizer por prazer e por devoção. Deixou de ser aquela polícia que sempre foi respeitada pelas outras instituições ligadas a segurança pública, por estar sempre junto, lado a lado, ombro a ombro.Poderia ficar aqui citando por horas os motivos que me levaram a redigir este documento, mas vou apenas citar um: VERGONHA. Vergonha que senti de mim mesmo quando por volta das 8 horas da manhã do último sábado, dia 17/10, fui informado por um colega que a vagabundagem havia derrubado um helicóptero da Polícia Militar. Meu primeiro pensamento foi: será que todos conseg uiram sobreviver? Deus permita que sim, mas infelizmente isso não ocorreu. Infelizmente, três pais de família, mas acima de tudo três GUERREIROS se foram, três homens de bem morreram para tentar salvar as vidas de nossas famílias.Mas o pior ainda estava por vir. Comecei a ligar para todos os companheiros que podia, informando dos fatos e confirmando que todos poderíamos ser convocados a nos dirigir para a superintendência. Eu achava isso, eu esperava isso, eu queria isso.Mas não. O que vi foi o contrário, não houve qualquer acionamento do efetivo de nossa superintendência, muito menos de nossa DRE. Não que fôssemos fazer diferença, mas apenas para mostrar aos companheiros naquele momento que, como sempre, estávamos juntos, lado a lado, ombro a ombro como sempre foi, combatendo um inimigo comum a todos. Para que os VAGABUNDOS que hoje aterrorizam nossa cidade, vissem que estamos unidos contra eles e que vamos vencer essa guerra.VERGONHA, APENAS VERGONHA é o que me resta sentir quando assisto pela TV, no conforto e segurança do meu lar, o desespero das famílias destes heróis mortos e a mãe de um deles, que apesar da dor inimaginável que certamente está sentindo, vir a público, com suas lágrimas contidas, dizer que seu filho morreu fazendo aquilo que gostava, lutando pela causa que escolheu para sua vida. VERGONHA, só me resta sentir VERGONHA.CB IZZO GOMES PATRÍCIO,SD MARCOS STANDLER MACEDO,SD EDINEY CANAZAROA vocês, HERÓIS desta cidade, meu pedido de desculpas; a suas famílias, meu pedido de perdão; a minha família, meu pedido de paciência, para entender toda a ANGÚSTIA e VERGONHA que estou sentindo neste momento; e a Deus, meu pedido que ilumine as mentes dos homens que dirigem este país, esta polícia, esta superintendência, para que eles possam perceber que se não mudarem suas posturas, realmente, estaremos perto do INÍCIO DO FIM.*Luiz Amado Machado, Agente de Polícia Federal, lotado na
DRE/DRCOR/SR/DPF/RJ, 47 anos de vida e 27 de polícia. E a pedido, DEMAIS SERVIDORES DA DRE/SR/DPF/RJ.
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