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domingo, 3 de abril de 2011


Ildebran disse...

Lembrança de morrer






Quando em meu peito rebentar-se a fibra Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente.




E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento.





Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro — Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro;




Como o desterro de minh'alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade — é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia.




Só levo uma saudade — é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas... De ti, ó minha mãe, pobre coitada Que por minha tristeza te definhas!




De meu pai... de meus únicos amigos, Poucos — bem poucos — e que não zombavam Quando, em noite de febre endoudecido, Minhas pálidas crenças duvidavam.




Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda É pela virgem que sonhei... que nunca Aos lábios me encostou a face linda!





Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores... Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores.




Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo.... Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo!





Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nelas — Foi poeta — sonhou — e amou na vida.—(foi Policial Militar sonhou com a PEC e....)




Sombras do vale, noites da montanha Que minh'alma cantou e amava tanto, Protegei o meu corpo abandonado, E no silêncio derramai-lhe canto!





Mas quando preludia ave d'aurora E quando à meia-noite o céu repousa, Arvoredos do bosque, abri os ramos... Deixai a lua prantear-me a lousa!




Álvares de Azevedo (1831-1852)






2 de abril de 2011 18:08

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