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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Perda da capacidade de indignação

Perda da capacidade de indignação
A cada dia que passa estamos deixando de ficar estarrecidos com as notícias que surgem do meio político eleitoral brasileiro assim como, de igual forma, no meio administrativo dos poderes constituídos.

Não bastassem os dólares na cueca, os mensalões da vida, o recebimento de propina gravada ao vivo e depois a absolvição sumária dos beneficiários por colegas de farra no congresso; a compra de votos em todas as eleições, pois só se ganham cargos eletivos ou com muito dinheiro para a compra de votos ou como apresentador de programas televisivos sensacionalistas ou ainda usando-se uma figura caricata ou carismática para ser eleito e puxar um punhado de aproveitadores para passarem anos legislando em causa própria ou em causas de seus interesses.

Juntando-se tudo isso temos para engrossar o caldo dos malfazimentos: parlamentar pagando despesa de motel com dinheiro do contribuinte e depois recebendo como paga a nomeação para um ministério; outros voando em aeronaves oficiais em atividades particulares ou voando nos jatinhos dos empresários que recebem vultuosas somas do próprio poder público afora; gabinete particular instalado em hotel de luxo em Brasília onde desde presidente de estatal, outros políticos participavam de reuniões secretas; pagamentos de empregados com dinheiro do povo, pagamento passagens de parentes e aderentes com dinheiro público; tráfico de influencias mil, malversação de verbas em vários ministérios e outras atividades duvidosas.

Em apenas alguns meses de governo, uma parte considerável dos cargos de primeiro escalão federal foi enxotada por condutas indizíveis, ainda bem. Rapaz, se abrirem dos peitos, como se diz, e fizerem uma devassa nos poderes constituídos, vão achar muita coisa inidônea.

Será que nós, sociedade civil organizada como um todo, não vemos que tipo de gente estamos colocando para gerir nossas vidas? Ou Será que está prevalecendo o jeitinho brasileiro, ou seja, o mau jeitinho brasileiro de se tentar levar vantagem em tudo, ou será, pior ainda, nós estamos perdendo a capacidade de nos indignarmos com as condutas desvairadas dos outros onde estes eleitos se beneficiam e se apoderam das riquezas da nação às duras penas pagas pelo povo?. Oxalá que não

Por outro lado, como cobrar de políticos que elegemos se muita gente diz, lugar comum, “há, se eu estivesse lá faria a mesma coisa” ou “rouba mas faz”. Como cobrar também se o próprio cidadão quer se dar bem à sua maneira?

Em meia hora de corrida na última semana presenciamos duas atitudes de incivilidade de cidadãos eleitores. Coisas simples mas que retratam como nos comportamos com relação a nós mesmos e com os outros: o primeiro cidadão, dentro de um carro, jogando lixo no meio da rua; o outro, pior ainda, com um cachorro no meio do passeio público sem qualquer aparato para recolher o dejeto do animal: dito e feito: no meio da praça o cachorro, que não tem culpa, faz suas necessidades e o dono sai e deixa a sujeira para os outros como se nada tivesse acontecido. Então, como diante de tais atitudes simples de anti civilidade, cobrar dos malfazejos que estão no poder?

O resultado de tudo isso tudo: corrupção desenfreada e uma tremenda acomodação das pessoas em achar atitudes erradas eticamente, certas. Esperamos ainda ser merecedores de um futuro melhor, com pessoas melhores gerindo nossos destinos enquanto cidadãos.

É o que todos almejamos: ver o Brasil, que pleiteia uma vaga no conselho de segurança da ONU se tornar um pais com mais dignidade e respeito a todos os seus cidadãos. Esperamos também uma saúde melhor para todos, uma carga tributária mais justa e menos onerosa para quem mais produz nesta nação, onde as pessoas possam voltar a passear com mais segurança pelas nossas ruas; que o ódio e a violência traduzida na palavra da moda bullying não imperem nas escolas; que a educação de um

modo geral seja igualitária e eficiente para todos e que as drogas, celular mater de toda violência vermelha, não estrutural, recrudesça nas nossas grandes cidades.

Enfim, que todos os autores de feitos criminosos em todas as esferas, sejam igualmente punidos com rigor e possam devolver em dobro, tudo o que surrupiaram dos cofres públicos. Há somente uma exigência para tal; a cobrança das autoridades competentes e a não-perda da capacidade de indignação diante dos malfeitos cotidianos que ainda presenciamos em nosso maio social.

Mairton Dantas Castelo Branco – major PM-RN.

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