Existem políticos piores e melhores. Mas ficou mais difícil
distinguir uns dos outros depois que a Lava Jato comprovou que a
política virou apenas mais uma ramificação do crime organizado. Há dez
dias, o STF afastou Eduardo Cunha do mandato e da poltrona de presidente
da Câmara. Fez isso porque, “além de representar risco para as
investigações penais” abertas contra ele, o deputado tornou-se “um
pejorativo que conspira contra a própria dignidade da Câmara”.
A Suprema Corte concluiu que a presença de Cunha no comando feria os
“princípios de probidade e moralidade que devem governar o comportamento
dos agentes políticos.” O que fez a Câmara? Bem, a mesa diretora da
Casa acaba de baixar uma resolução concedendo à improbidade todas as
mordomias que o dinheiro —do contribuinte— pode pagar.
Mesmo sem trabalhar, Cunha receberá salário integral. Coisa de R$
33.763 por mês. Continuará morando na residência oficial da Câmara,
assentada à beira de um lago, no bairro mais caro e elegante da Capital.
Ali, Cunha terá cama, comida e roupa lavada com verbas públicas.
Manterá também a prerrogativa de usar carro oficial com motorista, avião
da FAB, seguranças, e até R$ 92 mil para pagar os salários dos
funcionários de um gabinete cujo titular o STF suspendeu por tempo
indeterminado.
Tudo foi feito em perfeito desacordo com a opinião dos técnicos da
Câmara, que opinaram a favor da supressão de regalias de Cunha. O
primeiro-secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), alegou
que, na falta de melhor critério, os deputados que dirigem a Casa
decidiram que Cunha deveria receber as mesmas regalias concedidas à
presidente afastada Dilma Rousseff.
Seria injusto dizer que a decisão da Câmara representa mais um caso
de corporativismo. Já não se trata de mero espírito de corpo, mas de
espírito de porco. Se os resíduos mentais que inspiram esse tipo de
decisão fossem concretos, não haveria esgoto que bastasse.
Josias de Souza
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