Unido a Aécio Neves por solidariedade política e penal,
Michel Temer mobilizou-se para devolver ao senador tucano o mandato, a
liberdade noturna e o passaporte. O presidente gastou mais do que saliva. Para
virar votos no plenário do Senado, Temer autorizou seus operadores políticos a
acenar com a liberação de R$ 200 milhões em emendas orçamentárias.
Aécio precisava de pelo menos
41 votos. Amealhou 44 apoios.
Os três apoios excedentes vieram da bancada do Mato Grosso do Sul: Simone Tebet
e Waldemir Moka, ambos do PMDB; e Pedro Chaves, do PSC. Em privado, diziam que
votariam contra Aécio. Após o aceno orçamentário, votaram a favor.
Convalescendo de uma cirurgia,
o senador Romero Jucá, presidente do PMDB e líder do governo, avisara que não
daria as caras no plenário nesta terça-feira. Ao farejar o cheiro de queimado,
Temer estimulou-o a comparecer. Além de gotejar mais um voto no cesto de Aécio,
Jucá ajudou o Planalto a demonstrar aos aliados que havia milhões de razões
para socorrer Aécio.
Presidente do Conselho de
Ética, o senador João Alberto, que já aliviara a barra de Aécio uma vez,
arquivando um pedido de cassação do seu mandato, estava com uma cirurgia
agendada para o horário da votação. Desmarcou. João Alberto é homem de José
Sarney, que trata Aécio como um neto desde que herdou do avô dele, Tancredo
Neves, a poltrona de presidente da República.
Numa terceira tentativa de
prejudicar Aécio, a bruxa provocou um mal súbito no senador Paulo Bauer, líder
do PSDB. Levaram-no para um hospital. Abre-alas do bloco ‘Somos Todos Aécio’,
Renan Calheiros ponderou: “É fundamental fazermos um apelo ao senador Paulo
Bauer, para que ele faça um esforço a mais e venha. Afinal, o João Alberto
cancelou uma cirurgia. E o Romero Jucá teve arrancada metade das tripas e está
aqui. Firme!”
Tirado da forca sem método,
Aécio fez pose numa nota oficial: ''A decisão restabeleceu princípios
essenciais de um Estado democrático”, escreveu. Para bom entendedor, suas meias
palavras soaram como uma insinuação de que o Supremo atentara contra a
democracia ao suspender-lhe o mandato.
Salvo pelo déficit público à
moda de Temer, pela recuperação dos enfermos, pela solidariedade suicida do
tucanato e pelo instinto de sobrevivência de 17 senadores que votaram com o nó
da Lava Jato no pescoço, Aécio está agora em posição análoga à da formiguinha
da anedota —aquela que foi resgatada pelo elefante.
Não basta a Aécio dizer “muito
obrigado”. Temer espera receber sua retribuição na Câmara, onde tramita a
segunda denúncia da Procuradoria contra ele. Aécio já ajudara a organizar o
enterro da primeira denúncia. O Planalto espera que auxilie muito mais no
segundo velório. Uma mão lava a outra. Mas o resto permanece sujo. O ruído que
se ouve ao fundo é o eco do diálogo vadio que Aécio manteve com o delator
Joesley Batista.
Fonte: Josias de Souza
Via: Gilberto Dias
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