Páginas

terça-feira, 3 de outubro de 2017

A Pedra da Cangaçaria, Pau dos Ferros/RN

   Ainda de madrugada nos embrenhamos mato adentro em busca da Pedra da Cangaçaria, assim denominada porque em 1927, quando o bando de lampião, vindo da cidade de Marcelino Vieira/RN e se dirigindo rumo à Mossoró/RN, se abrigou sob a sombra dessa grande pedra, haja vista sua localização privilegiada, cercada por morros.
   Após cerca de vinte minutos de caminhada mato adentro avistamos a silhueta da imensa rocha.
 
   Quando transpusemos a Pedra da Cangaçaria entendemos o motivo pelo qual o bando de lampião escolheu sua sombra como abrigo. Todo o lado esquerdo da foto abaixo era sombreado pela grande pedra além de ser um local cercado por morros, o que dava mais segurança para o bando. 
   Mas o maior presente por trás da rocha era o lindo sol nascente, que já despontava no horizonte, embora a lua ainda estivesse passando o comando do céu para o astro rei. 
Paisagens da Caatinga, com suas cercas, pequenos açudes, pedras, árvores secas e cardeiros.



   Espinheira Santa, também conhecida como Favela, com parte de sua casca retirada por algum raizeiro, devido a seus poderes medicinais.  

   A sabedoria do homem da caatinga não foi algo adquirido com o objetivo de status social ou para acumulação de riquezas, mas tão somente com o fim de prover sua subsistência e é por isso que ela é sempre consistente. O saudoso Sr. Napoleão Diógenes, da fazenda Jacuí em Pau dos Ferros/RN, contava que certo dia estava em meio ao mato a procurar alguns animais desaparecidos e acabou por encontrar um homem ao qual perguntou-lhe se tinha visto algum animal passar por ali. O homem respondeu com uma pergunta: Entre os animais há uma égua branca de um olho cego? Sr. Napoleão respondeu que sim e perguntou se ele a havia visto. O homem respondeu: não, não vi não. Eu sei que o animal é branco porque quando passou por este arbusto sacudiu o rabo e deixou cabelo branco nos galhos. Sei que o animal é cego porque ele só comeu capim de um lado do pasto. E sei que é uma égua porque ela "mijou" e não pisou em cima do "mijo". Mas ver mesmo eu não vi não.
   Na foto abaixo registramos a marca dos cascos de um cavalo sobre a própria urina.
   Pardal repousa sobre os galhos de uma mangueira.
   Na caminhada de volta encontramos um típico homem do sertão, caçando para a própria subsistência, com uma espingarda de fabricação local. Disse-nos que seu nome era Damião e aceitou satisfeito o convite para fotografá-lo. O interessante é que, de início, não lembrei de incluir o cachorro como parte do registro, mas este, ao captar seu dono imóvel, sentou ao seu lado como se houvesse notado o quão desatento era o fotógrafo pra não perceber que no sertão a história de uma caçada possui dois atores: caçador e cão.  
  
Livio Victorius Coisas que vi, lugares que senti.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário