Ainda de madrugada nos embrenhamos mato adentro em busca da Pedra da
Cangaçaria, assim denominada porque em 1927, quando o bando de lampião,
vindo da cidade de Marcelino Vieira/RN e se dirigindo rumo à Mossoró/RN,
se abrigou sob a sombra dessa grande pedra, haja vista sua localização
privilegiada, cercada por morros.
Quando transpusemos a Pedra da Cangaçaria entendemos o motivo pelo
qual o bando de lampião escolheu sua sombra como abrigo. Todo o lado
esquerdo da foto abaixo era sombreado pela grande pedra além de ser um
local cercado por morros, o que dava mais segurança para o bando.
Mas o maior presente por trás da rocha era o lindo sol nascente, que
já despontava no horizonte, embora a lua ainda estivesse passando o
comando do céu para o astro rei.
Espinheira Santa, também conhecida como Favela, com parte de sua
casca retirada por algum raizeiro, devido a seus poderes medicinais.
A sabedoria do homem da caatinga não foi algo adquirido com o
objetivo de status social ou para acumulação de riquezas, mas tão
somente com o fim de prover sua subsistência e é por isso que ela é
sempre consistente. O saudoso Sr. Napoleão Diógenes, da fazenda Jacuí em
Pau dos Ferros/RN, contava que certo dia estava em meio ao mato a
procurar alguns animais desaparecidos e acabou por encontrar um homem ao
qual perguntou-lhe se tinha visto algum animal passar por ali. O homem
respondeu com uma pergunta: Entre os animais há uma égua branca de um
olho cego? Sr. Napoleão respondeu que sim e perguntou se ele a havia
visto. O homem respondeu: não, não vi não. Eu sei que o animal é branco
porque quando passou por este arbusto sacudiu o rabo e deixou cabelo
branco nos galhos. Sei que o animal é cego porque ele só comeu capim de
um lado do pasto. E sei que é uma égua porque ela "mijou" e não pisou em
cima do "mijo". Mas ver mesmo eu não vi não.
Na foto abaixo registramos a marca dos cascos de um cavalo sobre a própria urina.
Na caminhada de volta encontramos um típico homem do sertão, caçando
para a própria subsistência, com uma espingarda de fabricação local.
Disse-nos que seu nome era Damião e aceitou satisfeito o convite para
fotografá-lo. O interessante é que, de início, não lembrei de incluir o
cachorro como parte do registro, mas este, ao captar seu dono imóvel,
sentou ao seu lado como se houvesse notado o quão desatento era o
fotógrafo pra não perceber que no sertão a história de uma caçada possui
dois atores: caçador e cão.
Livio Victorius Coisas que vi, lugares que senti.
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