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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Fracasso financeiro. A sociedade despreza a volta de Bruno

Cerca de 200 pessoas foram ver a volta de Bruno. R$ 2.000 de renda
Cerca de 200 pessoas foram ver a volta de Bruno. R$ 2.000 de rendaWAGNER SIDNEY SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
São Paulo, Brasil
Foi tudo calculado.
Articulado pela advogada.
Foi criado um escudo humano, que misturava família e seu novo time.
Ele foi para a entrevista ao lado da filha Isabela, de um ano e meio.
Chegou a colocá-la no colo, diante dos jornalistas.
A esposa Ingrid também estava na sala.
Assim como o presidente do Poços de Caldas, Paulo César Silva.
E dez jogadores do clube da Terceira Divisão Mineira.
A imprensa foi avisada que ele só falaria de futebol.
E a repórter da TV Alterosa foi proibida de participar da coletiva. Nem o microfone da afiliada do SBT pôde ficar na mesa de entrevistas.
Por conta de a emissora ter filmado o ex-jogador bebendo com mulheres quando deveria estar trabalhando, no regime semiaberto.
Bruno Fernandes das Dores de Souza começava ontem mais uma tentativa de limpar sua imagem.
Embora condenado a 20 anos e nove meses pelo assassinato da modelo Eliza Samudio, mãe de um outro filho, em 2010.
Os motivos foram vários da dura pena.
O crime que cometeu foi hediondo.
Por motivo torpe, meio cruel e uso de meio que dificultou a defesa da vítima. Além disso, manteve Eliza em cárcere privado. A sequestrou junto com o filho. E participou da ocultação do cadáver. 
Bruno foi considerado pela Justiça como mandante deste bárbaro crime.
O ex-jogador do Atlético Mineiro, Corinthians e Flamengo estava para ser negociado com o Milan e tinha enormes chances de passar a defender a seleção brasileira, quando não suportou as cobranças de Eliza por pensão alimentícia.
E arquitetou o sequestro, assassinato, ocultação ou destruição do corpo de Samudio.
Mesmo com essa história macabra, Bruno significa a possibilidade de dinheiro para o clube que o contrate.
Ele sempre foi um grande goleiro.
Assim como a diretoria do Boa Esporte tentou em 2017, a esperança do minúsculo Poços de Caldas não é só filantrópico. Recuperar um brasileiro para a sociedade.
Não.
O plano é recuperar o jogador para fazer dinheiro com ele.
Vendê-lo a outro clube, com grande lucro.
Bruno assinou contrato até janeiro de 2020.
Recebe cerca de R$ 10 mil mensais.
Tem 34 anos.
No futebol atual, goleiros podem atuar até 38, 40 anos.
Essa é a aposta.
A questão é financeira também para Bruno.
Jogar futebol é muito mais lucrativo do que soldar peças, varrer ruas, trabalhar como lixeiro, profissões que são reservadas para a maioria dos detentos em regime semiaberto como ele está.
A entrevista de ontem tinha como objetivo fazer publicidade. Mostrar que Bruno voltou para o mercado do futebol brasileiro. 
Advogados tentaram deixar o assassinato em segundo plano. Censurando a imprensa
Advogados tentaram deixar o assassinato em segundo plano. Censurando a imprensaPoços de Caldas
Um grande goleiro está na ativa de novo.
E que pode ser comprado por um preço muito barato.
A ilusão da ambiciosa diretoria do Poços de Caldas e dos advogados de Bruno é que todos se esqueçam da crueldade que ele foi capaz de fazer com Eliza Samudio.
Psicólogos forenses norte-americanos já fizeram milhares de teses sobre o fascínio de criminosos, principalmente assassinos, exercem sobre parte da população.
Ainda mais os famosos.
Aqueles que são cercados pela mídia.
A entrevista censurada foi pura propaganda vazia de Bruno.
Ensaiada com seus advogados.
"Me sinto lisonjeado em estar voltando para o esporte. A motivação vem da oportunidade de voltar ao esporte. É o que o eu sei fazer, é o dom que Deus me deu. Estou com motivação total, vontade de crescer novamente"
"A partir do momento que as pessoas passarem a conhecer o Bruno mais de perto, o ser humano que é o Bruno, tenho certeza que pode mudar muito a opinião de muita gente. Vou ter a oportunidade de mostrar esse novo eu."
"Tem jogadores que jogam até 41 anos, e eu estou com 34 anos. A posição de goleiro ajuda e pretendo jogar muitos anos. Apostamos na questão jurídica e, a partir de janeiro, e com ajustes, talvez eu mude para Poços de Caldas."
Depois de falar, ele participou do segundo tempo do amistoso contra o time amador Independente Juraia. Não sofreu gols, mas falhou em duas saídas e teve uma lesão na coxa direita ao chutar uma bola.
Apesar de toda publicidade na provinciana Poços de Caldas, apenas cerca de 200 pessoas foram ao estádio Benedito de Oliveira, o Bandolão. Pagaram R$ 10,00 para ver o famoso goleiro.
Foi um fracasso financeiro. 
Apenas R$ 2.000,00.
O presidente do clube, Paulo César Silva, é também o dono do clube. Foi ele quem reativou a equipe. Empresário da área de eletroeletrônicos, teria investido R$ 380 mil para reativar o time.
E viu em Bruno uma ótima oportunidade de não só reaver o que investiu, mas lucrar com a eventual venda.
Após a partida, cerca de dez pessoas pediram selfies com Bruno.
Ele as atendeu sorrindo.
A partida de ontem e a apresetação como novo jogador do Poços de Caldas foram duas vitórias de Bruno.
Ele cumpre regime semiaberto domiciliar em Varginha. A justiça brasileira permitiu que fosse jogar em Poços.
Investimento barato. R$ 10 mil mensais. Sonho é venda por milhões
Investimento barato. R$ 10 mil mensais. Sonho é venda por milhõesPoços de Caldas
Luta agora para fixar residência na pacata cidade.
Os protestos contra o goleiro se limitaram às redes sociais.
Ninguém se animou a levar sequer um cartaz lembrando o assassinato de Eliza Samudio, como aconteceu no Boa Esporte, clube muito mais representativo.
Bruno não tem mais a representatividade que tinha.
O escândalo que provocou em 2010 se arrefeceu, nove anos depois.
O feminicídio é levado muito mais a sério.
Apesar da propaganda gratuita feita pela imprensa, os 200 torcedores são uma resposta. Na verdade, eram curiosos. Queriam ficar perto de alguém famoso.
Não importava se fosse um assassino.
O que importava era a mídia.
Queriam ver o goleiro que arquitetou a cruel morte de uma mulher de 25 anos. E foi o responsável intelectual pelo desaparecimento do corpo, que insiste em não revelar onde está. Nem se existe. 
Para desespero da família de Eliza.
É esse homem que voltou ao futebol ontem.
Cercado pela filha, esposa e advogada.
E acolhido por um clube da Terceira Divisão.
Cuja diretoria busca o lucro o revendendo.
E se 'protege' do crime que cometeu.
Com a guarida censora dos seus advogados.
Não é necessário que Bruno fale sobre o brutal crime.
Articulem o esquema que for.
Ninguém vai se esquecer.
Eliza foi morta aos 25 anos. Era mãe do filho de Bruno
Eliza foi morta aos 25 anos. Era mãe do filho de BrunoR7
E nem do exemplo que a Justiça brasileira está dando.
A chance de um assassino, ainda cumprindo pena, por um crime hediondo, ser cultuado como um ídolo do futebol.
É absurdo.
Mas resume a legislação deste país...
R7

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