Cerca de 200 pessoas foram ver a volta de Bruno. R$ 2.000 de rendaWAGNER SIDNEY SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
São Paulo, Brasil
Foi tudo calculado.
Articulado pela advogada.
Foi criado um escudo humano, que misturava família e seu novo time.
Ele foi para a entrevista ao lado da filha Isabela, de um ano e meio.
Chegou a colocá-la no colo, diante dos jornalistas.
A esposa Ingrid também estava na sala.
Assim como o presidente do Poços de Caldas, Paulo César Silva.
E dez jogadores do clube da Terceira Divisão Mineira.
A imprensa foi avisada que ele só falaria de futebol.
E a repórter da TV Alterosa foi proibida de participar da coletiva. Nem o microfone da afiliada do SBT pôde ficar na mesa de entrevistas.
Por conta de a emissora ter filmado o ex-jogador bebendo com mulheres quando deveria estar trabalhando, no regime semiaberto.
Bruno Fernandes das Dores de Souza começava ontem mais uma tentativa de limpar sua imagem.
Embora condenado a 20 anos e nove meses pelo assassinato da modelo Eliza Samudio, mãe de um outro filho, em 2010.
Os motivos foram vários da dura pena.
O crime que cometeu foi hediondo.
Por motivo torpe, meio cruel e uso de meio que dificultou a defesa da vítima. Além disso, manteve Eliza em cárcere privado. A sequestrou junto com o filho. E participou da ocultação do cadáver.
Bruno foi considerado pela Justiça como mandante deste bárbaro crime.
O ex-jogador do Atlético Mineiro, Corinthians e Flamengo estava para ser negociado com o Milan e tinha enormes chances de passar a defender a seleção brasileira, quando não suportou as cobranças de Eliza por pensão alimentícia.
E arquitetou o sequestro, assassinato, ocultação ou destruição do corpo de Samudio.
Mesmo com essa história macabra, Bruno significa a possibilidade de dinheiro para o clube que o contrate.
Ele sempre foi um grande goleiro.
Assim como a diretoria do Boa Esporte tentou em 2017, a esperança do minúsculo Poços de Caldas não é só filantrópico. Recuperar um brasileiro para a sociedade.
Não.
O plano é recuperar o jogador para fazer dinheiro com ele.
Vendê-lo a outro clube, com grande lucro.
Bruno assinou contrato até janeiro de 2020.
Recebe cerca de R$ 10 mil mensais.
Tem 34 anos.
No futebol atual, goleiros podem atuar até 38, 40 anos.
Essa é a aposta.
A questão é financeira também para Bruno.
Jogar futebol é muito mais lucrativo do que soldar peças, varrer ruas, trabalhar como lixeiro, profissões que são reservadas para a maioria dos detentos em regime semiaberto como ele está.
A entrevista de ontem tinha como objetivo fazer publicidade. Mostrar que Bruno voltou para o mercado do futebol brasileiro.
Advogados tentaram deixar o assassinato em segundo plano. Censurando a imprensaPoços de Caldas
Um grande goleiro está na ativa de novo.
E que pode ser comprado por um preço muito barato.
A ilusão da ambiciosa diretoria do Poços de Caldas e dos advogados de Bruno é que todos se esqueçam da crueldade que ele foi capaz de fazer com Eliza Samudio.
Psicólogos forenses norte-americanos já fizeram milhares de teses sobre o fascínio de criminosos, principalmente assassinos, exercem sobre parte da população.
Ainda mais os famosos.
Aqueles que são cercados pela mídia.
A entrevista censurada foi pura propaganda vazia de Bruno.
Ensaiada com seus advogados.
"Me sinto lisonjeado em estar voltando para o esporte. A motivação vem da oportunidade de voltar ao esporte. É o que o eu sei fazer, é o dom que Deus me deu. Estou com motivação total, vontade de crescer novamente"
"A partir do momento que as pessoas passarem a conhecer o Bruno mais de perto, o ser humano que é o Bruno, tenho certeza que pode mudar muito a opinião de muita gente. Vou ter a oportunidade de mostrar esse novo eu."
"Tem jogadores que jogam até 41 anos, e eu estou com 34 anos. A posição de goleiro ajuda e pretendo jogar muitos anos. Apostamos na questão jurídica e, a partir de janeiro, e com ajustes, talvez eu mude para Poços de Caldas."
Depois de falar, ele participou do segundo tempo do amistoso contra o time amador Independente Juraia. Não sofreu gols, mas falhou em duas saídas e teve uma lesão na coxa direita ao chutar uma bola.
Apesar de toda publicidade na provinciana Poços de Caldas, apenas cerca de 200 pessoas foram ao estádio Benedito de Oliveira, o Bandolão. Pagaram R$ 10,00 para ver o famoso goleiro.
Foi um fracasso financeiro.
Apenas R$ 2.000,00.
O presidente do clube, Paulo César Silva, é também o dono do clube. Foi ele quem reativou a equipe. Empresário da área de eletroeletrônicos, teria investido R$ 380 mil para reativar o time.
E viu em Bruno uma ótima oportunidade de não só reaver o que investiu, mas lucrar com a eventual venda.
Após a partida, cerca de dez pessoas pediram selfies com Bruno.
Ele as atendeu sorrindo.
A partida de ontem e a apresetação como novo jogador do Poços de Caldas foram duas vitórias de Bruno.
Ele cumpre regime semiaberto domiciliar em Varginha. A justiça brasileira permitiu que fosse jogar em Poços.
Investimento barato. R$ 10 mil mensais. Sonho é venda por milhõesPoços de Caldas
Luta agora para fixar residência na pacata cidade.
Os protestos contra o goleiro se limitaram às redes sociais.
Ninguém se animou a levar sequer um cartaz lembrando o assassinato de Eliza Samudio, como aconteceu no Boa Esporte, clube muito mais representativo.
Bruno não tem mais a representatividade que tinha.
O escândalo que provocou em 2010 se arrefeceu, nove anos depois.
O feminicídio é levado muito mais a sério.
Apesar da propaganda gratuita feita pela imprensa, os 200 torcedores são uma resposta. Na verdade, eram curiosos. Queriam ficar perto de alguém famoso.
Não importava se fosse um assassino.
O que importava era a mídia.
Queriam ver o goleiro que arquitetou a cruel morte de uma mulher de 25 anos. E foi o responsável intelectual pelo desaparecimento do corpo, que insiste em não revelar onde está. Nem se existe.
Para desespero da família de Eliza.
É esse homem que voltou ao futebol ontem.
Cercado pela filha, esposa e advogada.
E acolhido por um clube da Terceira Divisão.
Cuja diretoria busca o lucro o revendendo.
E se 'protege' do crime que cometeu.
Com a guarida censora dos seus advogados.
Não é necessário que Bruno fale sobre o brutal crime.
Articulem o esquema que for.
Ninguém vai se esquecer.
Eliza foi morta aos 25 anos. Era mãe do filho de BrunoR7
E nem do exemplo que a Justiça brasileira está dando.
A chance de um assassino, ainda cumprindo pena, por um crime hediondo, ser cultuado como um ídolo do futebol.
É absurdo.
Mas resume a legislação deste país...
R7
Nenhum comentário:
Postar um comentário