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segunda-feira, 1 de junho de 2020

Site inglês afirma que Pelé foi o mais superestimado. Há limite para pirar


Top ten da insensatez do Football 365 coloca Rei em primeiro e inclui Roberto Carlos, Coutinho, Neymar e Hulk. E apenas um inglês, em oitavo. Ah, então tá

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, um dos seres humanos mais dotados da história da Humanidade para o exercício de uma atividade específica – no caso, o futebol – tem 79 anos. Cristiano Ronaldo, 35. Lionel Messi, 32.
CR7 e Messi devem aguardar calmos, mas com o desprezo dos gigantes, o cumprimento da seguinte profecia: daqui a três décadas, talvez menos, um amontoado de rapazes ingleses, provavelmente após algumas rodadas de cerveja daquelas que obnubilam o pensamento e embaçam a razão, ocupará um espaço qualquer da internet para afirmar que o português e o argentino foram os jogadores mais superestimados da geração que os abriga.
A cegueira em relação a tudo o que não é contemporâneo, para termo atual uma pandemia cada vez mais irritante nesses tempos, não gera exatamente pena de quem é cego dessa forma.
Franco-atiradores do portal inglês Football365 publicaram uma lista dos dez jogadores considerados por eles os mais supervalorizados de todos os tempos.
Nada menos do que a metade desse ranking do desatino é composta por brasileiros. Estão lá, pela ordem, Roberto Carlos (3º), Philippe Coutinho (6º), Neymar (7º) e Hulk (10º). E também, em primeiro lugar, acreditem, ninguém menos do que ele mesmo: Pelé. Fato curioso: apenas um inglês, Paul Scoles, ex-meia e atual técnico do Manchester United, faz parte do cometimento.
Fiquemos em Pelé. Na tentativa risível de justificar a colocação do Atleta do Século 20 no alto do ranking estrambótico da insensatez, essas vítimas da indigência para entender o não testemunhado abraçaram os seguintes argumentos: o brasileiro vive da fama, apenas antigos podem falar do Rei, ele participou machucado da Copa de 1962 e foi beneficiado pelas circunstâncias.
Disseram ainda que Heleno de Freitas e Garrincha eram “potencialmente” tão bons, mas o primeiro viveu em período de pouca exposição de mídia e o segundo não se preocupava com a imagem.
"Heleno de Freitas e Garrincha podem ter sido tão bons quanto, o que prova que Pelé se beneficiou das circunstâncias. O primeiro nasceu cedo demais para aproveitar a exposição na tevê e o segundo não tinha interesse em se promover", tascaram lá.
Heleno e Garrincha foram gênios absolutos, não se discute. Mas se não bastassem os 1.281 gols em 1.363 jogos, de acordo com a IFFHS, e os milagres operados com a dez do Santos ao lado de Mengálvio, Coutinho, Pepe e companhia, é oportuno lembrar que Pelé, tricampeão do mundo, encantou os seres humanos à frente da maior formação de 11 atletas já escalada em campo de futebol em todos os tempos: a Seleção Brasileira de 1970.
O desconhecimento e a incapacidade de dimensionar e incluir fatos não vistos com os próprios olhos em comparações seriam até comoventes, não fossem deseducadores. Mas, de certa forma, o ranking insano, que corta e joga fora, com desmedida inconsequência, o pedaço da História que não se viu, pode até ser redentor.
Agora posso dizer sem culpa que escrevo melhor do que Drummond e Machado de Assis. Que minha filhota pinta melhor do que o gênio pós-impressionista holandês Van Gogh. E que o Zezinho, o faz-tudo lá de casa no reparo das coisas, é um ser bem mais multifacetado do que o italiano Leonardo Da Vinci, provavelmente a cabeça mais privilegiada a funcionar na face da Terra desde o surgimento do Homo Sapiens. Não é pouca coisa. Estou aliviado.
Na lógica torta desses camaradas, melhor é acreditar numa lista de dez superestimados com cinco brasileiros, o tricampeão e Atleta do Século 20 Pelé no topo e apenas um representante da Inglaterra, uma única vez campeã mundial, e ainda em oitavo lugar.
Ah, vá.
Sei não, mas começo a desconfiar de que os fornecedores de breja dessa galera do Football365 na pandemia são bastante eficientes. E os editores, muito bons de humor.
 
Peguem mais leve, british boys, mais leve. Menos. Bem menos. Até para pirar no eurocentrismo há limite.

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