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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Delegados ameaçam paralisar atividades

Indignada com a ordem do secretário de Segurança, que mandou exonerar 36 ´adjuntos´, a categoria pode parar

Delegado Milton Castelo, presidente do Sindepol, explica que as atitudes do secretário têm constrangido a Polícia
MIGUEL PORTELA

Faltando menos de três meses para deixar o cargo, Roberto Monteiro voltou a provocar uma crise na Segurança Pública
MIGUEL PORTELA

A pouco menos de três meses de deixar o cargo, o secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará, Roberto Monteiro, entrou novamente em conflito direto com a Polícia Civil. Agora, os cerca de 300 delegados da instituição ameaçam cruzar os braços.

A paralisação seria um protesto diante da recente medida adotada por Monteiro contra aqueles que vinham atuando nos plantões das delegacias distritais e metropolitanas da Grande Fortaleza, apesar de, no papel, estarem lotados no cargo de ´delegados-adjuntos´ em outras unidades da instituição.

No começo da semana, Monteiro recebeu do Ministério Público um relatório que apontava a ausência dos ´adjuntos´ nas DPs, muito embora eles estivessem recebendo a gratificação por ´cargo comissionado´.

Diante da informação do MP, Monteiro agiu drasticamente. Além de determinar a exoneração dos 36 delegados, encaminhou ofício ao superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas, ordenando a instauração de um inquérito policial contra os colegas, e, ao mesmo tempo, requisitou uma apuração por parte da Corregedoria Geral dos Órgãos da Segurança Pública (SSPDS). Na prática, o secretário mandou apurar a possível prática de crime e, ainda, desvio funcional.

Revolta

A atitude de Monteiro provocou, na manhã de ontem, uma reação imediata dos delegados da Polícia Civil. Vários deles dirigiram-se ao sindicato da categoria (Sindepol) e exigiram providências. Em nota distribuída à Imprensa, no começo da tarde, a entidade foi enfática. "O secretário omite que a nomeação dos delegados para os cargos em comissão é ato de sua competência e, somente agora, no apagar das luzes de sua conturbada gestão, venha divisar suposto ilícito penal e administrativo envolvendo seus próprios atos", afirma a nota do Sindepol.

Em entrevista, por telefone, ainda pela manhã, o presidente do sindicato, Milton Castelo Filho, afirmou que a decisão de tirar os delegados-adjuntos de suas unidades e transferi-los para os plantões tomada pela própria administração em face da falta de pessoal, já que a Polícia Civil cearense sofre, há quatro anos, com uma grave falta de delegados, agentes e escrivães.

"O Sindepol lamenta profundamente que Sua Excelência (o secretário) mais uma vez tente, de forma abusiva e ilegal, constranger a classe de delegados, especialmente, aqueles que, por determinação superior, desempenham suas funções como autoridades policiais nas delegacias de plantão", informa a nota do sindicato. E completa: "Por respeito à população cearense, somos forçados a reconhecer que, a postura do secretário Roberto Monteiro tem contribuído, sobremodo, para o desestímulo de todos os policiais".

Em nota à Imprensa no dia anterior, a Assessoria de Comunicação da SSPDS resumiu a postura do secretário diante do fato. "A SSPDS tão logo soube da denúncia, mandou exonerar todos os apontados na relação e encaminhou o fato à Corregedoria dos Órgãos da Segurança. Convém lembrar que, na exoneração, os delegados continuam trabalhando normalmente, mas deixam de receber o adicional (gratificação) pela atividade comissionada".

Os delegados dizem que a gratificação, de pouco mais de R$ 670,00, cai para R$ 490,00 líquidos. "Trata-se de uma gratificação que não cobre o desgaste físico e psicológico que os profissionais sofrem em plantões noturnos e de 24 horas nos fins de semana e feriados. A própria administração criou 11 polos plantonistas e remanejou os delegados", disse Milton Castelo Filho.

FERNANDO RIBEIRO
EDITOR DE POLÍCIA
Diariodonordeste

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