Guilherme tinha motivações políticas para atacar procuradores e promotor.
Servidor afirma que passou 3 anos planejando crime praticado nesta sexta.
Servidor do MP se apresentou neste sábado e ficou preso (Foto: Carlos Lima/Inter TV Cabugi)
O servidor do Ministério Público do Rio Grande do Norte Guilherme
Wanderley Lopes Silva teve motivações políticas e administrativas para
atacar procuradores e um promotor de justiça, nesta sexta-feira (24),
deixando dois baleados. Em carta escrita antes de praticar o crime, ele
destacou que: 'terrorismo se combate com fogo'. E ainda 'alguém
precisava fazer algo efetivo e dar uma resposta a esse genuíno crime
organizado'.Guilherme Wanderley invadiu uma reunião onde estava o procurador-geral de Justiça do RN, Rinaldo Reis, no final da manhã desta sexta-feira. Ele chegou a atirar contra Rinaldo, mas errou. No entanto, conseguiu acertar o promotor público Wendell Beetoven nas costas e dois tiros no procurador-geral adjunto, Jovino Sobrinho.
Ele estava sendo procurado pela polícia e se apresentou no final da manhã deste sábado (25). Depois disso, ficou preso por força de um mandado de prisão preventiva e foi levado para o Centro de Detenção Provisória da Ribeira.
Também nesta tarde, o Ministério Público divulgou a íntegra da carta que foi escrita por Guilherme Wanderley e deixada na sala do procurador-geral. No documento, o servidor cita várias questões políticas e administrativas referentes à gestão de Rinaldo Reis, bem como do procurador-geral adjunto e do promotor Wendell.
Trecho da carta do atirador divulgada pelo Ministério Público do RN (Foto: Divulgação/MPRN)
Sobre o motivo para matar os três, o funcionário do MP criou um tópico
específico no qual escreveu: "Ora, o motivo é intuitivo: legítima defesa
sui generis própria e alheia. Alguém precisava fazer algo efetivo e dar
uma resposta a esse genuíno crime organizado. Resposta do tipo: 'para
algumas ações, haverá sim reação'. Ou: 'quem planta... colhe'. A verdade
não pode ser calada, nós estamos numa guerra que, infelizmente, é
imperceptível por muitos dada a gigantesca cegueira do nosso povo
ignorante, desorganizado e, por isso mesmo, culpados. A caneta tem o
poder de ferir e matar. Meu lema há muito tempo é: trate os outros como
gostaria de ser tratado e procurando dar a cada um o que é seu. Tão
fácil de seguir, mas, infelizmente, tão desprezado".Planejamento
Guilherme escreveu ainda que seu plano de matar os procuradores e o promotor vem desde o ano de 2013. "Eu estou preparado desde 2013, na espreita de sua principal jogada maldosa: exonerar os assessores ou ataque à suas finanças. Aí sim, eu teria carta branca para fazer o que tinha e tem que ser feito. Sigo o critério objetivo dele. O que é ruim para o todo deve ser descartado. Ele inspira tremenda má influência e isso já temos de dobra. Tinha que esperar até o último momento, até minhas finanças se esgotarem, porque a tarefa não é nada fácil, apesar de necessária".
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Ainda no documento, ele completa: "São mais de 3 anos esperando (desde
abril de 2013). Angústia porque não sou dono da verdade e, por isso
mesmo, ainda tenho um pouquinho de dúvidas acerca dessa minha conduta.
Cerca de 5% a 10% de dúvidas. Mas, satisfação porque pedi resposta a
Deus e, pelo que percebi, ele me mostrou esse caminho. Tenho cerca de
90% de certeza de que assim devo proceder. Os sinais foram vários,
claros e eu prometi a Deus e a Jesus Cristo que estaria pronto para essa
tarefa. Ora, se prometi uma coisa a Eles... como posso voltar atrás?
Nunca! Sou um servo de Deus e de Jesus Cristo".- Atirador do Ministério Público ficará preso preventivamente em Natal
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O servidor, em determinado trecho da carta, deixa claro que seus planos eram matar os alvos: "Hoje, aconteceu o 'impeachment qualificado' (pelo menos, do procurador-geral de Justiça e do procurador-geral de Justiça adjunto, ambos aqui do Rio Grande do Norte). Notem que o impeachment convencional não seria possível, tendo em vista que o Rinaldo sabia se articular bem e, relembrando a eleição, conseguiu 132 votos a favor e 82 contra, como consequência, logrou êxito na candidatura do citado cargo".
Ele também dá indícios de que sabia que poderia morrer durante a ação planejada ou até mesmo tirar a própria vida, ao ressaltar: "Esse meu relato eu tentarei entregar a algumas pessoas de bem, honestas, visando a melhor divulgação possível desse trabalho e sem cortes. Vocês que ficam, busquem a dignidade. Encontrem um caminho mais fácil que o meu".
Exoneração
Guilherme fala em vários pontos do documento sobre a conduta de Rinaldo Reis e seus assessores a frente do Ministério Público e destaca: "Na verdade, desde abril de 2013, foi o epicentro, pois, nesse ano, foi engendrado meu plano infalível para destronar esses déspota mais ou menos esclarecido e alguns de seus, pois, naquela data houve o debate da campanha ministerial, quando ele falou que os assessores seriam exonerados, o sangue ferveu e eu tive a certeza dos minhas intenções".
"Quem quiser entender melhor o porquê da minha ira, é só olhar o CD do debate. Veja que, meu cargo tem muito mais legitimidade que o deles. Jovino foi, inclusive, empossado como adjunto sem autorização do Colégio de Procuradores de Justiça. Estou tentando dar bons exemplos ao Brasil. Como um beija-flor apagando um incêndio. E mudar pra melhor. Exagero se combate com exagero. Terrorismo se combate com fogo", completou.
Ao final do documento que foi deixado na sala do procurador-geral de Justiça, o servidor autor do atentado ainda colocou uma carta de renúncia e exoneração para que o procurador-geral Rinal Reis assinasse, assim como o procurador-geral adjunto Jovino Sobrinho e o promotor Wendell Beetoven.
Também em seu texto, o servidor do MP cita problemas sociais e ainda a corrupção no Brasil. "Temos policiais mal remunerados, sem diárias, com salários atrasados, sem estrutura, sem voz. Justamente o setor que inicia o combate ao crime, é um dos mais esquecidos pelo Estado. Muitos ainda estão dispostos a perder a vida a se corromper. Essa parte é linda. É, o pior é que tem muita gente que reclama, mas, concorda em ser corrupto. A verdade é sempre revelada, cedo ou tarde. O brasileiro é um povo muito corrupto, nesse sentido foram as várias e oportunas crônicas de Arnaldo Jabour. Ocorre que, os maus dominam, mesmo assim, há muita gente boa no nosso país e devemos lutar por nós e por essa minoria. Devemos fazer ou tentar fazer com que a maioria entenda que a corrupção é ruim para todos. O trabalho dos bons não pode parar. Qualquer que seja sua dimensão: beija-flor ou industrial. Pouco ou muito. Porque o importante é alimentarmos o espírito. A luta é importante, o resultado terreno não. Vamos dar uma chance a mais ao RN, ao Brasil.
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