Começa a campanha eleitoral. O início está sendo feito com todo o cuidado; régua e compasso. Os instrumentos são, nessa fase inicial, mapas eleitorais, calculadoras, nomes, pesquisas e muitas intuições para tentar adivinhar tendência do voto futuro.
O Jogo da Nominata pretende antecipar, em cada legenda, qual o potencial de cada partido. Até a eleição passada bastava só a legenda; a coligação era livre, cobra verde com jacaré, e no fim todos estavam eleitos. – Oito vagas, oito partidos no RN.
A regra mudou “para fortalecer os partidos” acabando as coligações na eleição proporcional. Coligação só na eleição majoritária. Na eleição proporcional, que dá vez as minorias; não.
E o capital (inclusive para participar do Fundo Partidário) é o voto de Deputado Federal. Ai entram outros componentes. O principal deles é o palanque, este, independe de Justiça Eleitoral (custo anual: R$ 10 bi contra R$ 4.9 bilhões do Fundo Partidário). A correlação da nominata é com o quociente eleitoral
TUDO PELO QUOCIENTE
Criado no bojo do código eleitoral de 1932, inventor dessa jabuticaba jurídica brasileira, Justiça Eleitoral, ”o quociente eleitoral é o número mínimo de votos que um partido ou coligação deve obter para ter um ou mais representantes na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas ou Câmaras Municipais. Todos os cargos, para serem preenchidos, respeitam o chamado sistema proporcional de votação, diferente do sistema majoritário, cujas regras servem para candidatos a cargos do poder executivo.”
Esse resto de semana será fundamental para completar essa fase. Ainda ontem, quatro Deputados Federais candidatos tidos como viáveis tentavam desembarcar no União Brasil (PSL-DEM): Fábio Farias (leia-se Robinson Faria), Beto Rosado, Benes Leocádio e Carla Dickson.
Tentaram entrar lá por Brasília, mas a direção estadual que remontou uma estrutura eleitoral, sob a batuta do Presidente da Câmara de Natal, Paulinho Freire (candidato a Deputado Federal), reagiu e botou o dedo no suspiro.
ONDE NÃO SE PODE ERRAR
Na última eleição de Vereador em Natal, o Cidadania (rótulo do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão) que tem como donatário no RN o ex-deputado Wober Junior, é tido como um craque na elaboração de nominatas, onde o primeiro desafio é atingir o quociente, errou feio.
Tendo como puxador de votos um homem de televisão, Leo Souza (hoje na equipe de Luciano Huck, na Globo), este fez a sua parte. Teve 4.022 votos, foi o décimo candidato mais votado na capital. – E não se elegeu.
A nominata não complementou o número de votos para formar o quociente .Dai a importância de cada partido ter candidatos que sabem que não serão eleitos mas somam para atingir esse tal quociente.
Com 361.769 votos válidos apurados, o quociente de Natal foi de 12.474 votos, três vezes mais do que a votação de Leo, que agora deve ser candidato a Deputado Estadual pelo União Brasil. O eleitorado de Natal é de 557.109, e é em cima dele que a turma se exercita.
O eleitorado do terceiro colégio eleitoral do RN, Mossoró, é de 174.189 eleitores. Quando atingir 200 mil eleitores o pleito majoritário será definido em segundo turno, como em Natal.
HORA E VEZ DA UNIÃO
O presidente da União Brasil no RN é o ex-senador José Agripino, sem mandato. Cardeal do PFL/DEM, que não pretende ser candidato. Ele atraiu Paulinho Freire, Presidente da Câmara de Natal, que montou uma estrutura partidária, que levou Agripino a rasgar a própria carne, ao liberar o seu mais antigo companheiro político, o deputado Getúlio Rego (decano da Assembleia Legislativa) a buscar outra legenda para não se prejudicar pessoalmente permanecendo no seu partido.
Paulinho Freire atraiu o vereador Felipe Alves, que é emblemático do investimento que o partido tem feito em Natal e mostra a desarticulação do MDB que tem o seu tio, Garibaldi como o grande nome do partido presidido por um primo legítimo, filho dele. Além de ter nomes novos na chapa federal tido como viáveis, o União Brasil parece bem estruturado.
Aparentemente o menor problema na formação da nominata é o Partido dos Trabalhadores – Partido do Governo – que está quase arrumado na chapa principal com a reeleição de Fátima Bezerra e sendo procurado, como é o caso de Carlos Eduardo, que pintava como líder da oposição e parece que vai ser seu companheiro de chapa, depois de horas de conversa.
NÚMERO MÁGICO
Dos atuais, tem Rafael Motta (cuja situação preocupa no seu PSB se não conseguir reforço), João Maia (exímio agrupador de forças díspares) e o general Eliezer Girão (que tem a cara de Bolsonaro), surpreendeu uma vez e pode repetir com o apoio do segmento formado por militares da reserva.
Sem mandato, não se sabe qual será a legenda de Henrique Alves na eleição. A cara do MDB, um dos cardeais (em Brasília) do partido que fundou, há 40 anos, mas que tem sido repetidamente desqualificado pela direção estadual que já lhe apontou a porta de saída algumas vezes. Pela primeira vez na condição de vítima, não lhe faltam convites para ingressar noutra legenda. Mas tem conseguido ficar calado e desestimular qualquer arenga com quem domina o partido que ele construiu.
Sem falar no PSDB de Ezequiel Ferreira, que em cima de uma estrutura de 200 Prefeitos, montou uma força – com nomes do porte de Getúlio Rego – que pode viabilizar a candidatura dele a Governador do Estado.
Não tem faltado razões para mudanças ou permanências, mas não se pode esquecer que todos – TODOS – nessa hora estão atentos é ao Jogo da Nominata, para conquistar o quociente que, no caso de Deputado Federal é de um oitavo dos votos apurados, num eleitorado de 2.373.619 eleitores no RN. – Somem e dividam…
Por Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte
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