Encontrar venezuelanos com cartazes pedindo em semáforos não é mais novidade nas ruas de Natal. Com condições difíceis de moradia e alimentação em seu país de origem, os imigrantes tomaram rumo para a capital potiguar em busca de uma nova chance nas suas vidas.
Hoje com uma placa de ajuda na Avenida General Gustavo Cordeiro de Farias, em Petrópolis, zona Leste de Natal, o venezuelano, José Baez, de 49 anos, costumava ser professor e atuava há seis anos na área da educação. Com salário equivalente a pouco mais de R$ 104, ele conta que pedir pelas ruas do Brasil se tornou a principal alternativa para sua sobrevivência e de sua família.
A estimativa é de que 50 venezuelanos estejam, hoje, em Natal. Nos próximos dias, a expectativa é que uma nova leva de estrangeiros desembarque na Rodoviária de Natal. O grupo está morando na zona Oeste da cidade. Parte está abrigada em uma pousada e outra parte em uma casa alugada.
“A situação lá é muito triste. Eu era professor, trabalhava, mas não conseguia nem comer. Aqui ao menos eu consigo. Ficar nas ruas pedindo virou a solução para poder dar de comida para minha família. Lá falta comida, não tem moradia, muito menos medicamentos”, relatou.
O atual piso salarial do professor na Venezuela é de R$ 104,31 por mês, montante que equivale a apenas 4% do piso estabelecido para a categoria no Brasil, que é de R$ 2.557. O valor pago para um professor venezuelano é suficiente para comprar apenas um quilo de carne e um de queijo no país.
José Baez é oriundo de Tucupita, capital de Delta Amacuro, a mais de 700 quilômetros de Caracas. Ele está em Natal há três semanas e veio para a cidade de carro com sua esposa, seus quatro filhos e um amigo, que também é da Venezuela. Até chegar em solo potiguar, o imigrante parou em diversas capitais durante seu trajeto, como Boa Vista, Manaus, Belém, São Luís, Teresina e Fortaleza. Ele, contudo, afirma que foi na capital do Rio Grande do Norte que ele encontrou a população mais acolhedora e solidária.
“Aqui em Natal foi onde melhor consegui ajuda. As pessoas me dão roupas, comida e dinheiro. O povo daqui está sendo muito acolhedor, me veem pedindo e sempre dão ajuda”, frisou.
Baez carrega em suas mãos um cartaz com os dizeres: “Sou da Venezuela, vim de uma crise. Eu necessito, me ajude”. Ele está alojado junto de pelo menos outros 30 venezuelanos em um hotel, próximo a rodoviária, também na zona Leste de Natal.
Hospedado no mesmo hotel que José Baez, o também venezuelano Ubaldo Ratia, de 39 anos, junto com suas duas filhas pequenas, de cinco e sete anos, e de seu sobrinho, de nove, também pede pelas ruas de Natal. Ubaldo está em Natal há apenas três dias, mas já nota a diferença da qualidade de vida da Venezuela para o Brasil.
Em seu país de origem, trabalhava como cortador de cana, mas relata o mesmo problema que todos: nos últimos anos, com a disputa de poderes entre Nicolás Maduro e seu opositor Juan Guaidó, a escassez do básico necessário para se viver é frequente.
“Lá (na Venezuela) faltava tudo, aqui eu posso criar meus filhos. As coisas são muito caras, todo preço é acima do que se tem aqui. Eu vim para sobreviver, lá não tinha condições”, explicou Ratia.
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