Marco Carvalho
Repórter

A partir do trabalho de Felinto, o prefeito de Vila Flor e seis vereadores foram presos por envolvimento em um suposto "mensalão" na cidade. "Eles se orgulhavam por serem corruptos", comentou o vereador, que chegou a utilizar câmeras escondidas para flagrar ações supostamente criminosas.
Durante a manhã de ontem, Felinto conversou com a equipe de reportagem do jornal Tribuna Do Norte sobre os detalhes do caso ocorrido no interior do Estado que ganhou repercussão. A entrevista ocorreu na sede da Procuradoria-Geral de Justiça, em Candelária. Formado em Pedagogia, com pós-graduação na mesma área e graduando em Direito, o vereador de Vila Flor diz que teve um caso de "amor à primeira vista com os princípios morais". Com práticas honestas, dentre os corruptos, Felinto foi capaz de desbaratar sozinho o esquema e conseguir provas para embasar a denúncia do Ministério Público.
Na cidade que "falta de quase tudo", não faltava apropriação de recursos públicos. "Quando perguntava sobre a reação da população frente o crescimento do patrimônio, os vereadores diziam com todas as letras: 'Não estou nem aí, rapaz'". O homem de fala calma e personalidade centrada, não gesticula enquanto fala e também não se exalta ou se emociona. Apenas relata.
Relata o que viu, ouviu e presenciou. Em seu segundo mandato para o cargo, foi eleito com 158 votos. O pai e o irmão já exerceram o mesmo cargo e foram eles que encaminharam o professor concursado para concorrer a vereador. Na primeira tentativa, não se elegeu. Conseguiu o cargo em 2004, tendo sido reeleito em 2008.
Conta que no primeiro mandato era inexperiente para se levantar contra as irregularidades que via. No segundo, com a experiência, vieram as denúncias. Mas não foi tão fácil. "O Ministério Público não teve essa disposição toda para investigar. Foi preciso insistir, vir a Natal para fazer as coisas acontecerem".
Os princípios morais foram herdados do pai, agricultor semiescolarizado, mas de personalidade influente na pequena cidade. A família se espalha no município com mais de 70 componentes. Da mãe, falecida há poucos anos por complicações em consequência da diabetes, aprendeu a "lição da paciência".
Floriano Felinto classifica como "desafio" a tarefa de retomar as atividades em Vila Flor. "Temos que arrumar a casa e acabar com o lamaçal de corrupção que já estávamos acostumados de tanto ver". A administração municipal vinha gerando insatisfação popular, segundo o vereador. "A saúde estava doente. Na área de educação, o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] é um dos piores do Estado".
Ameaçado pela realização das denúncias, o vereador hoje está sob rastreamento de equipes do Ministério Público. Contando com ele, são três vereadores que compõem a Câmara Municipal. Perguntado se os outros dois não teriam envolvimento com o esquema, Felinto recua. "Deixamos a denúncia a critério da Justiça. Vamos ver o que acontece no decorrer da investigação".
Felinto espera que a ação do Ministério Público e Polícia Militar deixe marcas na memória da população, para a evolução com os erros. "Quem vota em corrupto, está votando na própria desgraça. A população tem que aprender o valor do seu voto e ter consciência das conseqüências de uma escolha errada".
Câmara convocará suplentes e vice
O vice-prefeito de Vila Flor, Manoel de Lima (PV), assumirá o comando do Executivo Municipal após a prisão do prefeito e do presidente da Câmara Municipal. Ontem, ele esteve na sede da Procuradoria-Geral de Justiça, em Natal, para conversas com promotores de Justiça.
Lima se recusou a conversar com a imprensa e todas as informações foram repassadas através do seu advogado, Carlos Odécio. "Ele ficou surpreso com o fato de existir um esquema envolvendo o prefeito e vereadores. O meu cliente não tinha conhecimento que isso ocorria, tendo se mantido afastado das negociações relatadas", afirmou o advogado.
Consultado pelo Jornal de Fato, o advogado Marcos Lanuce explicou que primeiro os três vereadores que não foram presos terão que convocar seis suplentes para os cargos dos seis que estão presos. Instalado a nova Câmara, os vereadores vão votar pela vacância do cargo de prefeito e logo em seguida empossar o vice-prefeito Manoel de Lima. Isto tem que acontecer logo, porque a cidade não pode ficar sem prefeito, explica o advogado Marcos Lanuce.
* Jornal de Fato
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