No início do mês de maio, o atentado contra o ex-soldado da Polícia Militar, João Maria Marques da Silva, completará dois meses. Tentaram calar o homem que denunciava tudo que via de errado. Quem? A polícia ainda não sabe e levará um tempo para descobrir. O delegado Marcos Vinícius Santos, que havia sido designado em caráter especial para investigar a tentativa de homicídio, deixou o caso e ainda não há um substituto. "A investigação mal havia começado. Como deixei a Dehom, todos os casos para os quais havia sido designado especialmente não estão mais comigo, a princípio", disse Vinícius em entrevista durante a tarde de ontem.
Na noite de 5 de março passado, o ex-PM João Maria foi surpreendido ao ver homens invadirem a sua residência e acertar diversos disparos de arma de fogo contra ele. Socorrido em estado grave, João Maria passou por diversos procedimentos cirúrgicos e o seu estado de saúde permanece delicado, segundo familiares. O militar ganhou notoriedade na região do município de Goianinha, a 60 quilômetros de Natal, por delatar o que via acontecer de errado. João Maria é tido como uma das principais testemunhas que possibilitaram a deflagração da operação Mensalão da Vila.
Para o delegado Marcos Vinícius, a quantidade de denúncias realizadas por João Maria torna a resolução do caso mais complicada. "Ele angariou muitas inimizades ao realizar estas denúncias. O Mensalão da Vila foi um dos casos, que não podemos dizer que especificamente tenha motivado essa represália. Ele denunciava o que via de errado", afirmou o delegado. Vinícius relatou ter enfrentado problemas no decorrer do inquérito, sem, no entanto, especificar quais seriam.
O delegado deixou a Delegacia Especializada de Homicídios (Dehom) e ocupará a Delegacia de Plantão da zona Norte de Natal. Marcos Vinícius esclareceu a transferência. "Foi um pedido meu desde o mês de janeiro. Como abriu um espaço agora lá, o delegado-geral me transferiu. Mas foi eu que pedi, por problemas pessoais que estava enfrentando", disse. Vinícius também deixou de ser o responsável pelo caso do advogado Anderson Miguel, agora sob responsabilidade do titular da Dehom, Laerte Jardim Brasil.
Morador de Goianinha, o soldado João Maria possui família em Vila Flor e desde 2008 tenta construir uma carreira política na cidade. Candidato derrotado nas eleições passadas, João Maria se prepara para concorrer novamente em 2012. Foi no ano de 2009 que o perfil de investigador e denunciante começou a surgir. Na oportunidade, procurou o vereador Floriano Felinto para falar sobre irregularidades em contratos de terceirização de serviços de limpeza. A partir daí, aproximou-se do vereador de Vila Flor, Floriano Felinto, para continuar denunciando supostas irregularidades que eram flagradas.
MP intervirá em instalação de CEI
Com objetivo de esmiuçar as denúncias de corrupção e apontar os envolvidos, o vereador Floriano Felinto pretende requerer a instauração de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara Municipal de Vila Flor, a 80 quilômetros da capital do Rio Grande do Norte. Felinto quer jogar luz sobre os fatos investigados pelo Ministério Público Estadual, e que em dezembro do ano passado resultaram na deflagração da operação Mensalão da Vila. Ao que parece, o vereador não terá vida fácil.
Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, Floriano Felinto relatou as dificuldades que tem encontrado para instaurar a CEI. "Consegui a quantidade de assinaturas necessárias, mas a mesa diretora rejeitou a instauração. Isso vai de encontrado ao regimento da Casa", relatou. Segundo ele, isso ocorreu uma vez que os próprios membros da Câmara Municipal estariam sob investigação. "Quem não deve, não teme. Queremos investigar para enquadrar os responsáveis nos crimes ou inocentá-los. Mas ao que parece, alguns não querem passar por isso", reforçou.
Para garantir a instauração da CEI, o vereador recorreu ao Ministério Público Estadual. "Informei ao MP sobre as irregularidades que tenho visto. Já enviei representação e queremos garantir o cumprimento da lei", disse Floriano. Segundo ele, o MP deve se pronunciar sobre o caso na cidade. "Acredito que a CEI seja validada. Temos a obrigação de dar resposta à sociedade", afirmou.
Memória
Todos os envolvidos na operação Mensalão da Vila, deflagrada em dezembro do ano passado pelo Ministério Público Estadual já estão em liberdade. O MP denunciou onze pessoas por envolvimento com um suposto esquema de corrupção que contava com a participação do prefeito da cidade. Grinaldo Joaquim de Souza é acusado de pagar "mensalão" aos vereadores para obter apoio político e projetos aprovados no Legislativo.
FONTE: TRIBUNA DO NORTE