Resposta é de Wendell Beetoven, uma das vítimas do atentado.
Em carta, servidor que atirou em chefes do MP se diz 'muito arrependido'.
Promotor Wendell Beetoven se recupera em um hospital particular de Natal (Foto: Arquivo Pessoal)
"Se desculpa ou perdoa um menino traquino que faz uma travessura, não
um criminoso violento, covarde e traiçoeiro". Foi essa a mensagem que o
promotor público Wendell Beetoven Ribeiro Agra mandou ao G1 na manhã desta sexta (31), por meio de WhatsApp, em resposta ao pedido de desculpas feito através de uma carta escrita por Guilherme Wanderley Lopes da Silva,
servidor público que atentou contra a vida do próprio Wendell e dos
chefes do Ministério Público do Rio Grando do Norte, no caso o
porcurador-geral de Justiça Rinaldo Reis e o adjunto Jovino Bezerra.
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"Um sujeito que age dissimuladamente, que atira pelas costas, que não
tem coragem de enfrentar outro homem cara-a-cara, não merece sequer
respeito. É um ser desprezível, sem honra", acrescentou Beetoven, que
durante muitos anos atuou na Promotoria de Investigação Criminal e
Controle Externo da Atividade Policial, e atualmente é lotado na sede da
Procuradoria-Geral de Justiça, onde atua como coordenador jurídico.- Atirador do MPRN diz que comprou arma no 'mercado negro'; leia carta
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O G1 também tentou falar com Rinaldo Reis e Jovino Pereira Sobrinho, mas não conseguiu contato.
Bala alojada
Beetoven foi baleado nas costas, teve um pulmão perfurado, duas costelas quebradas e está com o projétil alojado no peito. Também na manhã desta sexta, ele falou sobre sua recuperação. “Sigo internado, com o dreno no pulmão e tomando sedativos. As duas costelas quebradas doem muito e, segundo os médicos, tem que esperar, pois não dá para emendar. O dano no pulmão direito é irreversível, o que dificulta a respiração. A bala continua alojada, pois os médicos consideram que é mais arriscado mexer agora”, explicou.
Pedido de desculpas
Na carta, escrita a punho de dentro de uma das celas do CDP da Ribeira, em Natal, onde está custodiado desde que se apresentou à polícia, Guilherme Wanderley detalha como tentou realizar o triplo homicídio, diz que está "muito arrependido" e pede desculpas. A carta, com data desta quinta (30), foi publicada na manhã desta sexta (31) no jornal Tribuna do Norte.
“É um farsante e mentiroso. A carta é uma estratégia de defesa. Ele planejou o crime por anos, nos mínimos detalhes. Sabia exatamente o que fazia e esperou o momento mais propício, em que eu, Rinaldo e Jovino estivéssemos no mesmo local”, disse Wendell sobre o conteúdo da carta.
Guilherme Wanderley relatou o dia do ataque ao MPRN (Foto: Reprodução/Tribuna do Norte)
“Acordo todas as noites e manhãs rezando para não ter feito isso. Aí
vejo que cometi. Foi uma cegueira bem mais forte do que eu. No final,
quem foi atingido mesmo, fui eu. Pensei estar seguindo a bíblia, tinha
certeza que estava, mas, na verdade, descobri que não estava. Agora
terei muito, muito tempo para pensar no meu ato”, escreve o atirador em
trecho da carta.Sobre o atentado, Beetoven disse se recordar com detalhes do ocorrido. "Lembro sim. Estávamos na sala do PGJ, numa reunião, quando ele entrou dizendo que tinha um documento urgente do Corregedor-Geral, Dr. Anísio Marinho, que é chefe dele. Por isso ninguém desconfiou de nada. Lá dentro ele entregou os documentos a Rinaldo, que perguntou do que se tratava".
Wendell Beetoven Ribeiro Agra, promotor de Justiça do Rio Grande do Norte (Foto: Arquivo Pessoal)
"Nesse momento ele sacou um revólver e disse ‘a vingança veio a
galope’. Eu estava sentado, de frente para o PGJ e de costas para
Guilherme. Por isso, talvez, tenha sido o último a perceber a arma.
Quando tentei me levantar, ele disparou contra as minhas costas”,
relatou.“Rinaldo, Jovino e os outros promotores correram pela porta secundária, que dá para a sala do chefe de gabinete. Nesse momento ele atirou de novo na direção de Rinaldo, mas o tiro pegou na porta. Depois ouvi outros tiros, mas fiquei caído na sala do PGJ até a chegada do socorro”, acrescentou o promotor. Beetoven, que durante muitos anos atuou na Promotoria de Investigação Criminal e Combate ao Controle Externo da Atividade Policial, atualmente é lotado na sede da Procuradoria-Geral de Justiça, onde atua como coordenador jurídico.
Guilherme Wanderley, de 44 anos, trabalhava no MP há 20 anos. Por volta das 11h da sexta-feira (24), ele invadiu uma reunião onde estava o procurador-geral de Justiça do RN, Rinaldo Reis. Ele chegou a atirar contra Rinaldo, mas errou. No entanto, conseguiu acertar o promotor público Wendell Beetoven nas costas e dois tiros no procurador-geral adjunto, Jovino Sobrinho. Ele estava sendo procurado pela polícia e se apresentou no final da manhã do sábado (25). Depois disso, ficou preso por força de um mandado de prisão preventiva e foi levado para o Centro de Detenção Provisória da Ribeira.
No dia do crime, o servidor também fez uso de uma carta. Ela a deixou sobre a mesa da sala da reunião. O tom das duas cartas é diferente. Sobre o motivo para matar os três, o funcionário do MP criou um tópico específico no qual escreveu: “Ora, o motivo é intuitivo: legítima defesa sui generis própria e alheia. Alguém precisava fazer algo efetivo e dar uma resposta a esse genuíno crime organizado. Resposta do tipo: 'para algumas ações, haverá sim reação'. Ou: 'quem planta... colhe'. A verdade não pode ser calada, nós estamos numa guerra que, infelizmente, é imperceptível por muitos dada a gigantesca cegueira do nosso povo ignorante, desorganizado e, por isso mesmo, culpados. A caneta tem o poder de ferir e matar. Meu lema há muito tempo é: trate os outros como gostaria de ser tratado e procurando dar a cada um o que é seu. Tão fácil de seguir, mas, infelizmente, tão desprezado".
Marca do tiro efetuado por Guilherme Lopes, que atingiu porta do procurador-geral de Justiça (Foto: Fred Carvalho/G1)
Na nova carta, o atirador fala que cometeu crimes, mas que não pode,
nem quer, negar. “Estou muito arrependido”, traz trecho do relato. Assim
como na carta deixada no dia do crime, Guilherme fala sobre a
insatisfação política e administrativa para o ataque. “Peço desculpas a
todos os membros e servidores do Ministério Público, pois mesmo com toda
a minha insatisfação com a gestão da instituição, o caminho, o remédio,
não podia ser esse”.O servidor, que fugiu após o crime, relata, no final da carta, que não ofereceu risco para os policiais e nem para os seguranças do Ministério Público. “Não correram qualquer risco, comigo, eu nunca atiraria neles. Agradeço a eles por não terem retirado a minha vida. Porque chance tiveram".
PMs e seguranças do MP fizeram buscas pelo servidor, que fugiu após os disparos (Foto: Fred Carvalho/G1)
O atirador está preso no CDP da Ribeira, onde ficará por tempo
indeterminado, segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Claiton Pinho.
O delegado Renê Lopes, da 5ª DP, que conduziu o interrogatório, disse
que o servidor passou a maior parte do tempo calado. "Ele nos respondeu
apenas três questionamentos. Negou quando questionamos se mais alguém
participou da ação, negou que já tenha sido internado anteriormente por
problemas psiquiátricos ou psicológicos e negou também que o atentado
tenha tido relação com um processo que seu genitor respondeu".“Terrorismo se combate com fogo”
Em carta escrita antes de praticar o crime, ele destacou que: 'terrorismo se combate com fogo'. E ainda 'alguém precisava fazer algo efetivo e dar uma resposta a esse genuíno crime organizado'. Ainda no documento, ele completa: "São mais de 3 anos esperando (desde abril de 2013). Angústia porque não sou dono da verdade e, por isso mesmo, ainda tenho um pouquinho de dúvidas acerca dessa minha conduta. Cerca de 5% a 10% de dúvidas. Mas, satisfação porque pedi resposta a Deus e, pelo que percebi, ele me mostrou esse caminho. Tenho cerca de 90% de certeza de que assim devo proceder. Os sinais foram vários, claros e eu prometi a Deus e a Jesus Cristo que estaria pronto para essa tarefa. Ora, se prometi uma coisa a Eles... como posso voltar atrás? Nunca! Sou um servo de Deus e de Jesus Cristo".
Trecho da carta deixada pelo servidor Guilherme Wanderley Lopes da Silva (Foto: Reprodução/Carta divulgada pelo MPRN)
Guilherme escreveu ainda que seu plano de matar os procuradores e o
promotor vem desde o ano de 2013. "Eu estou preparado desde 2013, na
espreita de sua principal jogada maldosa: exonerar os assessores ou
ataque à suas finanças. Aí sim, eu teria carta branca para fazer o que
tinha e tem que ser feito. Sigo o critério objetivo dele. O que é ruim
para o todo deve ser descartado. Ele inspira tremenda má influência e
isso já temos de dobra. Tinha que esperar até o último momento, até
minhas finanças se esgotarem, porque a tarefa não é nada fácil, apesar
de necessária".Ao final do documento que foi deixado na sala do procurador-geral de Justiça, o servidor autor do atentado ainda colocou uma carta de renúncia e exoneração para que o procurador-geral Rinal Reis assinasse, assim como o procurador-geral adjunto Jovino Sobrinho e o promotor Wendell Beetoven.
Atirador Guilherme Lopes preparou pedido de exoneração para que vítimas assinassem (Foto: Divulgação/MPRN)
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