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domingo, 18 de fevereiro de 2018

Como os peritos da PF usam fragmentos de DNA para desvendar crimes complicados

Embora o banco de dados genéticos com perfis de condenados e investigados conte com o entusiasmo de peritos e investigadores, a discussão sobre se a coleta realmente fere o direito de alguém não se autoincriminar é uma ameaça real

O Câmera

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Perito Eduardo Alexandre Itep em pericia de explosão no interior do RN - Imagem Marcelino Neto não tem relação com a postagem. Apenas para ilustração
Durante uma madrugada de março de 2014, a agência da Caixa na pequena cidade de Cristalina, de 55 mil habitantes, no interior de Goiás, foi praticamente destruída com a explosão de seus caixas eletrônicos, num desses assaltos que se tornaram comuns no Brasil nos últimos anos. Horas depois, na cena do crime, a perícia encontrou um boné preto e cinza puído com alguns fios de cabelo em seu interior. Em maio do ano seguinte, outra dessas máquinas da mesma instituição financeira foi detonada com explosivos a mais de 2.000 quilômetros dali, em Gravatá, Pernambuco. Um par de luvas verdes de borracha foi deixado para trás pelos bandidos. Não havia impressões digitais identificáveis, mas dentro da peça foram descobertos pequenos vestígios de pele.
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Quatro meses depois, de novo em Pernambuco, na cidade de Ribeirão, foi explodida durante a madrugada uma agência – também da Caixa. Como acontece muitas vezes nesse tipo de roubo, as coisas não saíram exatamente como planejado, e gotas de sangue dos bandidos ficaram pelo chão. Em outubro de 2015, mais equipamentos para sacar dinheiro foram violados com explosivos em Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais. Os peritos encontraram alguns objetos pessoais esquecidos na cena do crime, entre eles uma escova de dentes. Em dezembro de 2015, gotas de sangue foram encontradas nas estruturas de uma unidade da Caixa arrebentada por bombas em Serro, também em Minas. Com o mesmo modus operandi, mais aparelhos de transação financeira foram destruídos por detonadores em Paiçandu, no Paraná, em janeiro de 2016. Uma espessa mancha de sangue borrava uma das paredes da área detonada.
Crimes: condenado por quatro estupros, Walker Faraes foi processado por mais um depois que seus dados genéticos foram usados em investigação (foto: divulgação/pcdf)
Foram seis assaltos em menos de dois anos, em cidades mais de 1.000 quilômetros distantes umas das outras, em quatro estados. Em todos esses casos, peritos criminais recolheram evidências – o boné, as luvas, a escova dental, o sangue – e analisaram os vestígios deixados pelos criminosos em busca de traços de DNA, a identificação genética individual. Encontraram. Ao jogarem as informações obtidas em um programa de computador restrito, que concentra informações de bancos de perfis genéticos de 19 estados, mais um da Polícia Federal, as luzes se acenderam. Deu “match”, o que no jargão da perícia significa a combinação perfeita. Mais surpreendente foi um match sêxtuplo, ou seja: os resíduos de DNA encontrados em todos os artefatos são de um mesmo criminoso, o que indica que ele esteve em todos os roubos. O fato foi comemorado pelos investigadores por revelar um nexo entre as explosões. Isso pode ajudar a desenrolar a complexa trama dos crimes, ainda sem solução.
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