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terça-feira, 25 de outubro de 2011


Com novo bafômetro, São Paulo aperta fiscalização nas ruas


Mesmo assim, duas pessoas morreram no fim de semana. 
Advogados e promotores defendem leis mais duras 
contra o motorista embriagado.

Tem que punir. A lei precisa ser mais dura, defendem promotores, advogados, professores e vítimas de uma tragédia que faz vítimas todos os dias, todo fim de semana. São as vítimas dos motoristas embriagados. É uma estatística estarrecedora. 
Nesse fim de semana, a polícia de São Paulo resolveu
apertar o cerco e aumentar a fiscalização com uma novidade: um novo tipo de bafômetro. Nem assim foi possível evitar mais uma tragédia. Duas pessoas morreram.
Este é um começo, mas foram muitas as tragédias provocadas por bêbados no fim de semana. Ao todo, 14 pessoas morreram em dez acidentes de trânsito no estado. Especialistas defendem mais rigor na fiscalização e na lei.
Não precisa soprar. Basta o motorista conversar com o policial que o novo bafômetro indica se ele bebeu ou não. O dono de um carro foi flagrado na blitz.
Policial: O senhor está aparentando estar alcoolizado.
Motorista: Tudo bem, eu assopro e dou isso aí. Você está sentindo, sinceramente, é um problema seu.
Policial: Não, não é um problema meu. O senhor bebeu?
Motorista: Tomei duas cervejas.
O exame no bafômetro tradicional detectou estado de embriaguez, e o motorista foi levado para a delegacia. De sexta (21) a domingo (23), a polícia de São Paulo prendeu 53 pessoas que dirigiam embriagadas em operações entre 22h e 6h.
Mas o acidente mais grave do fim de semana aconteceu depois desse horário. O bancário Fernando Mirabelli foi parar na cadeia depois de atropelar três jardineiros que trabalhavam em um canteiro da Marginal Pinheiros. Ele tentou fugir e acabou agredido pelos colegas das vítimas. No carro, foram encontradas duas garrafas de bebida alcoólica vazias.
Fernando Mirabelli se recusou a fazer o teste do bafômetro, mas o exame clínico constatou sinais de embriaguez. No domingo (23), foram enterrados os corpos dos dois jardineiros mortos no acidente. “Quero justiça, é só isso que eu peço. Não só eu. Estou falando em nome de todos”, afirmou Wagner Damasceno, irmão de uma das vítimas.
Aldenir Abrantes, de 21 anos, foi o único sobrevivente. Ele passou por cirurgias na bacia e na perna e continua internado. “Ele estava vendo outro emprego e ele já estava estudando para fazer a entrevista, porque queria ganhar mais para dar uma vida melhor. Infelizmente acontece isso. Agora atrasou todos os planos”, lamentou Keren Rovira, namorada do Aldenir.
A garçonete Meire Miranda, que teve fraturas no fêmur esquerdo e no direito, é outra sobrevivente. Ela, o noivo e um amigo foram atropelados em um ponto de ônibus por um rapaz de 20 anos que não tinha nem carteira de habilitação. “Quando ele falou comigo, eu senti cheiro de bebida”, disse.
Para evitar novos acidentes desse tipo, os especialistas defendem a ampliação da fiscalização, inclusive para dias úteis. Alguns acham que isso não é suficiente e sugerem mudanças para tornar a lei mais severa. É o caso de Luiza Nagib Eluf, procuradora Ministério Público de São Paulo. Quando ela estava grávida de sete meses, ela foi vítima de um motorista embriagado que bateu no carro dela.
“Eu entrei em coma, tive fratura craniana, quebrei cinco costelas estando grávida, tive várias fraturas pelo corpo e meu marido teve fraturas expostas. Eu levei um ano para me recuperar deste acidente, e o sujeito simplesmente foi absolvido naquela época. Meu filho nasceu, mas eu poderia ter perdido essa criança”, contou a procuradora.
Luiza Nagib Eluf quer punição para quem não faz o teste do bafômetro. “Nós precisamos, talvez, mudar a lei nesse aspecto para que a pessoa que se negue a fazer o teste seja presumida alcoolizada”, disse a procuradora.
A proposta do presidente da comissão de trânsito OAB de São Paulo, Maurício Januzzi, é pena de cinco a oito anos de prisão para o motorista que bebe e mata. Ele defende que toda blitz tenha um médico legista.
“O médico legista, que é um técnico, vai ter capacidade suficiente para testar se aquele indivíduo está ou não embriagado. Ele poderia ser preso em flagrante por estar dirigindo embriagado. Acho que esta experiência ou esta situação inibiria e muitos pessoas que bebem e dirigem”, propôs Maurício Januzzi, presidente da comissão de trânsito OAB de São Paulo.
“É necessário que aquela pessoa que vê um acidente violento e várias mortes e que se indigna, se entristece com uma mãe que chora é o primeiro passo para poder mudar essa realidade”, observou Maurício Zanoide, professor de processo penal da Universidade de São Paulo (USP).
Metade dos acidentes que aconteceram no estado de sexta a domingo foi causada por motoristas com sinais de embriaguez. São acidentes como em Sumaré, no interior do estado, que deixou pai e filho mortos. O carro em que eles estavam foi atingido na traseira por outro veículo, dirigido por um motorista bêbado. Ele pagou fiança e foi liberado.
No caso dos dois funcionários da prefeitura atropelados, o motorista que provocou o acidente continua preso, mas o advogado dele vai entrar com um pedido de liberdade provisória na manhã desta segunda-feira (24).
Fonte: Edição do dia 24/10/2011 do Bom Dia Brasil.

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