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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Menino salvo de ataque de ariranhas em 1977 é alvo de operação da PF

 

Menino salvo de ariranhas no Zoológico de Brasília se tornou alvo de investigação da Polícia Federal. Ele é suspeito causar um rombo de R$ 6 bilhões no fundo de pensão dos funcionários dos Correios

Adilson no dia do acidente com as ariranhas em 1977
Um dos alvos da Polícia Federal na investigação que apura um rombo de R$ 6 bilhões no fundo de pensão dos funcionários dos Correios é Adilson Florêncio da Costa ; o menino resgatado aos 13 anos pelo sargento Sílvio Delmar Hollenbach, que, em 27 de agosto de 1977, se jogou no tanque das ariranhas para salvá-lo no Jardim Zoológico de Brasília.
Essa é a segunda vez que os investigadores miram em Adilson. Ele foi preso em junho de 2016, por supostamente integrar um esquema que desviou R$ 90 milhões do Postalis e da Petros, os fundos de pensão dos funcionários dos Correios e da Petrobras. Adilson é ex-diretor financeiro da Postalis.
Há 40 anos, Brasília ficou em choque pela morte do sargento do Exército Sílvio Delmar Holenbach, então com 33 anos. Após três dias de agonia no Hospital das Forças Armadas (HFA), o militar não resistiu às mais de 100 mordidas que levou das ariranhas do zoológico. Os animais o atacaram enquanto ele tentava salvar o menino Adilson, à época com 13 anos.

CPI dos Correios

O garoto salvo das ariranhas tornou-se importante interlocutor político. Apadrinhado de caciques do PMDB, Adilson, 54 anos, chegou à direção financeira do Postalis. Após aprovar o investimento do Postalis em debêntures do falido grupo Galileo Educacional ; instituição mantenedora da Universidade Gama Filho (UGF) e do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), ambas no Rio de Janeiro ;, tornou-se alvo de investigação.
O negócio ocorreu em abril de 2011. Até 2012, Adilson comandou o fundo de pensão. Ao deixar o cargo, ganhou emprego no conselho administrativo do grupo educacional. No ano seguinte, ele foi multado por má gestão no Postalis. Em 2014, a administração de Adilson novamente se tornou alvo de investigação, desta vez na Operação Lava-Jato.
Em 2006, Adilson chegou a depor na CPI dos Correios
Na última quinta-feira (2/2), a história do menino voltou às manchetes. A Polícia Federal voltou a casa de Adilson, no Lago Sul, um dos metros quadrados mais caros da capital federal. O imóvel foi alvo de polêmica durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Fundos de Pensão, em 2015, por supostamente ter sido comprado por R$ 1,1 milhão do ex-presidente do Postalis, Alexei Predtechensky. Em 2006, Adilson chegou a depor na CPI dos Correios para explicar um investimento de R$ 20 milhões do Postalis em bancos mineiros.
Adilson nunca comentou o fato de ter sido salvo pelo sargento aos 13 anos. Tampouco quis conhecer a família Hollenbach. Nas últimas quatro décadas, sempre que questionado sobre o assunto, manteve o silêncio ou mandou dizer que não falaria sobre o assunto.

Família se reconstrói

Os gaúchos Sílvio Delmar Hollenbach e Eni Teresinha tinham quatro filhos, à época, com idades entre 1 e 7 anos. A família presenciou toda o acidente quando visitava o Zoológico, em 1977. Semanas depois, Eni Teresinha decidiu voltar a Porto Alegre, para refazer a vida com as crianças. Hoje, a família voltou à Brasília, vive de maneira reservada e evita comentar o assunto.
Mas o filho mais velho do sargento, o médico otorrinolaringologista, Sílvio Delmar Hollenbach Júnior, 48 anos, carrega o nome do pai herói. Paulo Henrique, 46 anos, é analista de sistemas no Banco Regional de Brasília (BRB). Bárbara Cristine, 44, é advogada em Porto Alegre. Débora Cristina, 41, dá aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Filhos, nora e netos do sargento Sílvio Hollembach, em homenagem no Zoológico
Em homenagem ao sargento, o zoo passou a se chamar oficialmente Jardim Zoológico Sílvio Delmar Hollenbach. Além disso, o gesto de coragem ficou eternizado com a construção de um busto de bronze com o rosto do militar.
As lembranças daquele 27 de setembro de 1977 ainda estão vivas na memória de Sílvio Jr.. ;Lembro de tudo. Do meu pai saindo do carro, pulando no fosso e retirando o menino. Não fui ao enterro por ser pequeno. Na verdade, soube da morte dele pelo Jornal Nacional;, contou, em entrevista publicada em junho de 2016. Sílvio formou-se em Porto Alegre e fez residência no Hospital das Forças Armas (HFA) ; unidade médica onde seu pai ficou internado antes de morrer.
Na primeira prisão de Adilson, em junho de 2016, Sílvio Jr. contou ao Correio que sua mãe chorou ao saber do desfecho de Adilson. ;Ela não quis fazer nenhum comentário a respeito do assunto;, detalhou. ;Estava atendendo uma consulta quando me ligaram. Depois, vi a notícia nas redes sociais;, contou. ;Cada um faz suas escolhas. A gente cabe lamentar, mas o que importa é a mensagem que meu pai deixou de amor ao próximo;, completou.

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