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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Brasileiro da missão de paz da ONU relata momentos de tensão no Sudão:


Tenente da PM paulista foi sequestrado e sofreu com calor e alimentação. Oficial monitorou referendo que decidiu pela divisão do Sudão em janeiro.

“Este não é o seu país”, foi o que ouviu o policial militar paulista Carlos Alberto Mello e Silva, de 30 anos, quando foi rendido e seqüestrado por algumas horas supostamente por integrantes do Exército do Sudão armados de fuzis no final do ano passado. Ele integra desde março de 2010 a missão de paz da ONU que monitora a situação de violência no país da África (UNMIS) e caiu em uma emboscada quando investigava a morte de dois colegas durante o roubo de uma carga de alimentos.

“Buscávamos informações em diversas comunidades e falaram que nossos homens haviam sido mortos e os caminhões levados por homens em uniformes. Porém, homens em uniformes, no Sudão, podem ser de qualquer guerrilha, do exército, até mesmo da polícia, ou de grupos de ex- guerrilheiros desertores”, disse o tenente Mello em entrevista ao G1 de Wau, a segunda maior cidade do Sudão do Sul


“Ao entrar em uma trilha de mata fechada, nos deparamos com vários homens armados de fuzil, que os engatilharam e pararam nossos carros botando-nos para fora dos veículos, dizendo ininteligíveis palavras da lingua Dinka (usada por uma tribo local). Estavam fardados como se fossem do Exército regular do Sudão, mas não tínhamos a confirmação. Depois de horas negociamos a nossa própria libertação”, diz o oficial.

“Só então percebemos que havíamos entrado em uma área onde o exército escondia tanques de guerra que haviam deliberadamente confiscado da ONU”, afirma.

“O comandante nos disse ‘Este não é o seu país', e nos libertou após ter certeza que não sabíamos onde estávamos e que não havíamos tirado fotos do local”.

A experiência não impediu o oficial de continuar o trabalho como subcomandante da polícia da ONU no sul do Sudão. Mello é responsável pelo monitoramento dos conflitos e treinamento da polícia local e atuou em janeiro deste ano na supervisão de um referendo nacional determinou a divisão do Sudão, que tem o sul cristão e o norte, muçulmano.

O Sudão é o único país a ter duas missões de paz da ONU, que monitoram uma guerra civil que já deixou mais de 1,5 milhões de mortos e milhões de refugiados desde os anos 1990. O Tribunal Penal Internacional condenou por crimes de guerra e genocídio o atual presidente do país, Omar al-Bashir, que continua no poder.

Natural de Santo André, na Grande São Paulo, o tenente não se arrepende ter integrado a missão de paz. “Aqui, descobrimos realmente o significa pobreza. É usual vermos pessoas brigando por sacos de lixo nas ruas”, relata.

A principal dificuldade é com a infra-estrutura. “Na segunda maior cidade do Sudão do Sul, Wau, temos só uma rua asfaltada. Energia elétrica, só de gerador, e água limpa é um luxo de poucos”, descreve.

Outros problemas são o calor e a alimentação: a temperatura passa dos 50º C no sol e a comida é toda importada. “O suor evapora quase que instantaneamemte, e comida ao nosso estilo brasileiro por aqui, só trazendo do Brasil”, reclama o paulista. “As famosas diarréias do viajante são bem comuns,, portanto eletrólitos são recomendação constante ao militar vindo a uma missão de paz na África”, contou o PM paulista ao G1.

Após o referendo que separou o Sudão do Sul do Sudão do Norte, cuja capital é Cartum, o policial diz que ainda há focos de conflitos, mas que estão sendo “rapidamente resolvidos com a ação da ONU”.

”Viver tudo isso é uma grande experiência. Ainda existem pequenos focos de conflitos, lutas isoladas de facções do exército que se amotinam e causam algumas baixas. Mas com o referendo, e secessão dos dois Sudões, reconhecida tanto nacional quanto internacionalmente como um processo democrático e pacífico, o Sudão deu um importante passo rumo a seu próprio crescimento como nação”, diz o militar, que comemora o sucesso do trabalho da ONU no pleito.

Fonte: G1

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