Este é um pequeno relato de um policial civil que chegou de um cenário de guerra na Região Serrana.
Partimos para Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro , depois do temporal arrasador , com a missão de manter a ordem pública e oferecer assistência social à população local. No entanto, não voltei com o sentimento de dever cumprido.
Por lá, essa tarefa é apenas de Deus ao consolar a população local e encher aqueles corações com o sentimento de reconstrução. Somente uma força maior pode fazer isso, pois a cidade está submersa no desespero. Meu sentimento, após voltar de lá, é apenas de tristeza. Tenho que parar de pensar no que vi para não chorar.
Já na entrada da cidade, nosso comboio foi parado por um policial militar pedindo ajuda para levar alguns donativos que estavam na rodoviária. Levamos para o batalhão, que estava servindo de base para os resgates feitos por helicóptero. Foi lá que comecei a perceber a dimensão da tragédia.
A cidade estava mergulhada na lama. Marcas da força das águas por toda a parte. O trânsito estava um caos. Nossa base ficou no ginásio público da cidade, para onde os corpos eram levados. Nossos peritos estavam tirando fotos de rosto dos mortos para serem reconhecidos posteriormente. A sensação de ver inúmeros caixões de todos os tamanhos e ver cadáveres de todas as idades chegando é indescritível. A face mais dura para mim foi ver crianças atingidas pelos desabamentos. A sensação de incapacidade é aterrorizante.
Tive provas de que, no caos, a população é realmente solidária. Vi pessoas comuns organizando o trânsito, outras perguntando se já tínhamos comido algo, ombros consolando pessoas que nunca viram. Escutamos relatos emocionantes e conhecemos heróis anônimos. Os bombeiros que trabalham em desastres como este mereciam o maior salário do mundo, pois são heróis incansáveis. Entretanto, conseguem somente o reconhecimento das famílias envolvidas.
Nossa equipe ficou responsável por fazer a ronda na cidade para inibir os saques . Fizemos uma operação quando a noite chegou e não tivemos problemas. As ruas nesse horário estavam desertas. Logo depois, tivemos uma missão de escolta para o Rio e deixamos a cidade. Voltei com o coração batendo diferente e pedindo a Deus para que a chuva cessasse, pois o tempo todo que estive na cidade ela apenas deu pequenas tréguas. Sei que não acabou e estarei pronto para retornar a cidade ainda nessa semana novamente.
O policial atua sempre nas tragédias humanas e necessitamos estar com o espírito pronto para acalmar, acalentar, aconselhar, agir e resolver, mesmo em situações desesperadoras. Essa experiência ficará marcada como ferro e fogo. Situações como essas nos fazem repensar a vida.
O momento é de solidariedade. Críticas, construtivas ou não, se fazem em momentos de paz. E a paz aparecerá somente quando as nuvens escuras sumirem dos olhos da população dos locais atingidos.
SD Glacia
Partimos para Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro , depois do temporal arrasador , com a missão de manter a ordem pública e oferecer assistência social à população local. No entanto, não voltei com o sentimento de dever cumprido.
Por lá, essa tarefa é apenas de Deus ao consolar a população local e encher aqueles corações com o sentimento de reconstrução. Somente uma força maior pode fazer isso, pois a cidade está submersa no desespero. Meu sentimento, após voltar de lá, é apenas de tristeza. Tenho que parar de pensar no que vi para não chorar.
Já na entrada da cidade, nosso comboio foi parado por um policial militar pedindo ajuda para levar alguns donativos que estavam na rodoviária. Levamos para o batalhão, que estava servindo de base para os resgates feitos por helicóptero. Foi lá que comecei a perceber a dimensão da tragédia.
A cidade estava mergulhada na lama. Marcas da força das águas por toda a parte. O trânsito estava um caos. Nossa base ficou no ginásio público da cidade, para onde os corpos eram levados. Nossos peritos estavam tirando fotos de rosto dos mortos para serem reconhecidos posteriormente. A sensação de ver inúmeros caixões de todos os tamanhos e ver cadáveres de todas as idades chegando é indescritível. A face mais dura para mim foi ver crianças atingidas pelos desabamentos. A sensação de incapacidade é aterrorizante.
Tive provas de que, no caos, a população é realmente solidária. Vi pessoas comuns organizando o trânsito, outras perguntando se já tínhamos comido algo, ombros consolando pessoas que nunca viram. Escutamos relatos emocionantes e conhecemos heróis anônimos. Os bombeiros que trabalham em desastres como este mereciam o maior salário do mundo, pois são heróis incansáveis. Entretanto, conseguem somente o reconhecimento das famílias envolvidas.
Nossa equipe ficou responsável por fazer a ronda na cidade para inibir os saques . Fizemos uma operação quando a noite chegou e não tivemos problemas. As ruas nesse horário estavam desertas. Logo depois, tivemos uma missão de escolta para o Rio e deixamos a cidade. Voltei com o coração batendo diferente e pedindo a Deus para que a chuva cessasse, pois o tempo todo que estive na cidade ela apenas deu pequenas tréguas. Sei que não acabou e estarei pronto para retornar a cidade ainda nessa semana novamente.
O policial atua sempre nas tragédias humanas e necessitamos estar com o espírito pronto para acalmar, acalentar, aconselhar, agir e resolver, mesmo em situações desesperadoras. Essa experiência ficará marcada como ferro e fogo. Situações como essas nos fazem repensar a vida.
O momento é de solidariedade. Críticas, construtivas ou não, se fazem em momentos de paz. E a paz aparecerá somente quando as nuvens escuras sumirem dos olhos da população dos locais atingidos.
SD Glacia
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