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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Como e por que as gangues dominaram as prisões dos EUA e do Brasil

Thiago Guimarães - @thiaguima
Da BBC Brasil em Londres
  • Getty Images/ Reprodução/ AFP
    Presídio em Manaus (à esq.), cadeia nos EUA e integrante do PCC envolvido em sequestro em 2006: gangues se tornaram 'governo paralelo' em presídios, diz professor
    Presídio em Manaus (à esq.), cadeia nos EUA e integrante do PCC envolvido em sequestro em 2006: gangues se tornaram 'governo paralelo' em presídios, diz professor
O trabalho de um economista de 34 anos está sendo visto como a melhor tentativa em muito tempo de explicar como as gangues dominam prisões pelo mundo, da Suécia à Bolívia.
O americano David Skarbek, professor do King's College de Londres, usa ferramentas da economia - como a chamada teoria da escolha racional - para mostrar como esses grupos se formam e regulam o crime dentro e fora dos presídios.
O livro de estreia de Skarbek recebeu em junho o prêmio de melhor livro de economia política dos últimos três anos, oferecido pela prestigiada Associação Americana de Ciência Política.
Lançado pela Universidade de Oxford e ainda sem tradução no Brasil, The Social Order of the Underworld - How Prison Gangs Govern the American Prison System (A Ordem Social do Submundo - Como Gangues de Prisões Governam o Sistema Prisional Americano, em tradução livre) desafia a noção comum que vê as gangues de prisões americanas como bandos criados por presos apenas para promover racismo e violência.
Pelo contrário: tais grupos, afirma ele, se mantêm exatamente para criar ordem e lucrar onde o Estado não quer ou não consegue atuar.
Das gangues étnicas da Califórnia (Máfia Mexicana, Irmandade Ariana, Família Negra) ao PCC (Primeiro Comando da Capital) no Brasil, o pesquisador descreve no livro e em outros estudos organizações sofisticadas que criam hierarquias, controlam o contrabando nas prisões e solucionam conflitos internos.
Como sujeitos econômicos racionais, sustenta Skarbek, esses grupos fazem tudo isso por um motivo básico: dinheiro. Por ele, vale até moderar o uso da violência.
"Quando as prisões estão calmas e estáveis, as gangues fazem muito dinheiro. Elas podem vender drogas quando não há confusões em larga escala, então têm incentivo para prevenir homicídios e rebeliões. Elas querem lucrar e reconhecem que mantendo certa ordem podem fazer isso", afirmou Skarbek em entrevista à BBC Brasil em Londres.
Isso permite entender, diz ele, como lugares em que a população carcerária explodiu passaram a ter sistemas prisionais mais "calmos", com menos motins e homicídios.
Um retrato desse fenômeno, diz Skarbek, se dá na Califórnia, foco principal de sua pesquisa. O Estado americano quintuplicou sua população carcerária desde 1970 (de 25 mil para 130 mil), mas a taxa de assassinatos de presos caiu quase 100% no mesmo período, que coincide com o boom das gangues.
Ou em São Paulo, também alvo dos estudos de Skarbek, que diz ver sentido na hipótese que identifica o PCC como principal responsável pela queda de 73% nos homicídios no Estado desde 2001 - nessa interpretação, a facção transpôs às ruas as regras de controle da violência que criara nas cadeias.
No caso de São Paulo, por exemplo, não houve rebeliões nas 82 penitenciárias do Estado em 2014 e em 2015, e apenas duas neste ano. O governo não forneceu dados de anos anteriores, e nega que a paz relativa nas cadeias do Estado seja resultado da ação de gangues - cita medidas como treinamento de agentes, regime diferenciado para presos perigosos e uso intensivo de tecnologia.

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