* Tem nordestino que encobre, Seu passado na terrinha. Eu conto com muito orgulho, O que eu tinha ou não tinha. E até sinto saudades, Daquela humilde vidinha!
* Futuro? Eu nem sei se eu tinha, porque eu vivia o presente. Tomando banho de açude Bebendo água fria ou quente. E só me preocupava Com minha vida somente.
* Fui visitar minha gente E o lugar onde eu morava. Só vi um monte de barro, No lugar que a casa estava. Cortaram até as árvores Que eu subia e brincava...
* Em minha mente passava, Como se fosse uma tela. Um filme da minha infância, Que foi a fase mais bela. Morando naquela casa, Com minha vida singela.
* Caminhei por cima dela, Fui ao canto onde eu dormia. Parei para contemplar E senti a nostalgia Dizendo: seja bem vindo A quem já foi casa um dia!
* No coração a sangria Como se fosse uma faca Enfiada no meu peito, Deixando a matéria fraca. As pernas ficando bambas, A visão ficando opaca.
* Vi um ninho de casaca Encima do juazeiro. Andei onde no meu tempo, Era o curral e o chiqueiro. Procurei, mas na achei O canto que era o poleiro.
* Ainda senti o cheiro Da fumaça do fogão. E das flores que nasciam Nas biqueiras do oitão. O tempo destruiu tudo, Só tinha uns pés de pinhão...
* Na minha imaginação, Escutei mamãe falar. Damião tome o seu banho... Que é hora de almoçar. E o dos que foram pra roça, É você quem vai levar!
* Fiquei num canto a olhar, Mastiguei o meu presente. Olhei para o meu passado E o futuro em minha frente. Dizendo: zele as raízes, Elas que te fazem gente!
* Também veio em minha mente, O que mamãe disse um dia. Que eu podia ter o mundo, Dinheiro em alta quantia... que não pagava a saudade Da casinha que eu vivia!
* Sentei na parte mais fria Da sombra da cajarana. Bem onde era a moenda De um moedor de cana. E a cerca que eu pulava Coberta de getirana...
* Ali eu vivi sem grana, Sem inveja e ambição, Andando quase desnudo, Correndo de pé no chão. Sem a maldade em meu peito, Sem sonho e sem ilusão...
* O velho pé de pinhão Que eu vi ao ser plantado. Resistiu secas e invernos, Depois de abandonado, Morreu deixando as sementes e hoje está multiplicado.
* Hoje um mourão foi fincado No canto que era a sala. No local que era o paiol, Só tem entulho na vala. E eu não encontrei o canto Que eu guardava a minha mala.
* Eu quase perdi a fala, Pois também não encontrei O torno que eu armava A rede que me deitei. O tempo destruiu tudo Ou fui eu que demorei?
* A casa que me criei Sucumbiu no abandono. Telhas quebradas com lodo Pretas da cor de um carbono. Esse é o retrato falado Do lugar que não tem dono.
* Ali eu fui rei sem trono E brincava o dia inteiro. Com meu cavalo de pau Correndo pelo terreiro. Ou subindo em arvoredos inté mesmo em juazeiro!
* Não vi mais nem o barreiro, Só barro e cacos de telhas. Perguntei: qual o motivo? Já franzindo as sobrancelhas. Disseram que era por que, Moravam cobras e abelhas!
* Pastavam vacas e ovelhas, Onde foi a minha lida. Não aceito explicações, Por ela ser demolida. Porque ela é uma página Do livro da minha vida.
* Fiquei de testa franzida, Lembrando da criançada. Que vinham brincar comigo, Balançando na latada. Nem a latada escapou... No seu lugar não tem nada!
* Essa lembrança malvada Invadiu a minha mente. Meu passado foi difícil, Bem mais que o meu presente. Mesmo assim sinto saudade Daquela vida inocente!
* Tenho que seguir em frente Com o peito magoado. E com as imagens que vi No lugar que fui criado. Escrevi esse Cordel, Estou de volta ao passado. * Fim.
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