"Não tive o que fazer a não ser me render", afirmou o homem.
O caso aconteceu na tarde de quarta-feira (24). O local era conhecido antes como Ceduc. O funcionário foi libertado, sem ferimentos, depois de negociação entre agentes educadores, policiais militares e os adolescentes. Ele ficou das 14h às 19h refém dos adolescentes.
De acordo com o educador, ele e mais três a agentes estavam conduzindo dois adolescentes para um alojamento, quando houve o ataque.
"Ao chegar lá, a gente fez o procedimento, em que pedimos para que eles se agacharem com a mão na cabeça no canto da cela. Fizemos isso com os dois que estavam lá dentro e no momento da abertura da cela, para colocar os dois que estavam fora foi a hora que os dois de dentro atacaram os agentes - eu e mais três", relatou.
O ataque, segundo ele, ocorreu com armas brancas fabricadas artesanalmente pelos internos. Houve um embate e três agentes conseguiram sair do local e fechar os quatro adolescentes na cela junto com o refém.
"Mas como partiram para cima de mim com objeto pontiagudo - que já senti no pescoço, a ponta - não tive o que fazer a não ser me render e ficar sob comando deles", contou.
De acordo com o servidor, os jovens queriam deixar a unidade, levando ele como garantia de fuga. Ao longo das horas, ele conta que os colegas perguntavam rotineiramente se ele estava bem ou precisava de algo. Apesar das ameaças, ele não foi ferido. O alívio veio com a liberação.
O servidor criticou o que chamou de "afrouxamento" dos protocolos de segurança, como a ausência do uso de algemas durante o deslocamento dos internos.
"Acredito que vai acontecer novamente. Cada vez que se afrouxa esses protocolos de segurança, como a condução de vários internos sem algema, há várias possibilidades. Essa orientação que vem de cima é que a gente conduza eles livremente, com cabeça para baixo e braço para trás, e eles não fazem, muitos não fazem e ficam em atitude de deboche, de zombaria. Então a gente não tem nenhum respaldo", argumentou.
De acordo com o presidente da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fundase/RN), Herculano Campos, o motim foi realizado por quatro internos inicialmente. Dois deles depois deixaram a ação e os outros dois permaneceram.
Eles renderam o funcionário, que é um educador, com hastes de antenas de uma televisão, que se tornou um objeto parecido a um facão, mas que "não tinha capacidade de força perfurante", segundo o presidente da Fundase.
Segundo o capitão Flávio Peixoto, negociador da Rondas Ostensivas Com Apoio de Motocicletas (Rocam), os adolescentes fizeram algumas reinvindicações e a partir daí houve uma negociação.
"Algumas não foram atendidas, claro, como alguns que queriam ser liberados para fuga. Isso a gente não permite, óbvio. Pediram contato com os familiares pra salvaguardar a integridade física deles, e também o contato com a imprensa", explicou.
"Nós fomos gradativamente conversando e conseguimos obter êxito com a negociação e a libertação do agente educador sem ferimento, ileso, bem como dos adolescentes infratores".
'Não há maus-tratos'
O presidente da Fundase negou ainda que haja qualquer tratamento com maus-tratos aos adolescentes na unidade. "Em geral, esse tipo de acusação é a moeda de troca que eles jogam pra se fazerem de vítima. A gente não trabalha com maus-tratos de adolescente", afirmou.
Ele pontua, no entanto, que é preciso lembrar que os adolescentes fazem parte muitas vezes de grupos criminosos.
"Lidamos com pessoas muitas das quais são articuladas com facções do crime organizado. Mas nós temos por princípio trabalhar com a segurança socioeducativa. Nós rechaçamos qualquer acusação de maus-tratos com os meninos", pontuou.
Fonte: G1