Por Thadeu Brandão.
Quando finalizei a minha pesquisa de campo para minha tese de doutorado,
defendida em agosto de 2011, tive um profundo dilema em minhas mãos: os
dados mostravam, de maneira ainda singela, a presença de redes
criminosas dentro da Penitenciária de Alcaçuz, principalmente o PCC
(Primeiro Comando da Capital). Porém, naquele momento, ainda não
“dominavam” a mesma. Não consegui detectar a presença do que hoje é
chamado de “Sindicato do Crime do RN”.
Até aquela data, as autoridades da segurança do RN negavam a presença ou
existência de qualquer dessas redes em prisões potiguares. Talvez
porque, como relatei acima, ainda não dominassem o espaço prisional e
fosse mais fácil negar.
Seis anos depois, várias rebeliões, quase uma centena de mortos e muita
destruição e propaganda negativa, as autoridades de segurança pública do
RN estão de mãos atadas. Ontem, com a tentativa do PCC de invadir o
pavilhão onde se encontravam membros do Sindicato a situação se tornou
mais uma vez, explosiva. A invasão, aparentemente bem sucedida, culminou
em cabeças decepadas – características da ação extremamente violenta
dos membros do “comando” – e pelo menos 10 mortos.
A rebelião se incitou com apoio logístico externo, com carros de apoio
jogando armas pela muralha e levando a parte da massa carcerária local
ao pavilhão onde estavam membros do Sindicato, iniciando a chacina. A
barbárie realizada foi uma demonstração de poder do PCC que, conforme
fontes confiáveis, já disputa a hegemonia do tráfico de cocaína em
várias partes do RN (principalmente naquelas limítrofes com o estado do
Ceará).
O PCC cresce paulatinamente e, neste processo, vai eliminando seus
inimigos. Notadamente, uma parte dos homicídios (execuções) em algumas
áreas de confronto podem ser – talvez – atribuídas a este processo e
consolidação de hegemonia. Para quem comemora que “bandido” matando
“bandido” é bom, segue um aviso: o PCC é extremaste organizado, violento
e consegue se imiscuir em todas as searas sociais, inclusive na
pública. Uma vez consolidada a hegemonia do PCC no RN, teremos um quadro
de insegurança pública pautado por um agente extremamente poderoso e
com tentáculos no Estado. Muito diferente do que ocorria com o nosso
crime local.
Não quero e nem preciso ser alarmista. O descontrole do sistema
prisional potiguar (como o de boa parte do Brasil) começa a impor o
pagamento de um altíssimo preço. A forma como o governo do Estado,
ontem, lidou com a crise em Alcaçuz, demonstra, infelizmente, que o PCC
está em vias de controlar o sistema prisional local.
O saldo desta tragédia ainda está para ser contabilizado. E, com0 eu
disse, nesta conta não serão os “bandidos” os grandes prejudicados.
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